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Entrevista Dr. Yvon Bugaret (ex-INRA)

27/11/2003
Entrevista Dr. Yvon Bugaret (ex-INRA)

A gama de novas moléculas colocadas no mercado vitivinícola pela Bayer CS é notável pela diversidade de substâncias activas originais, pertencentes a diversas famílias químicas!



Foi durante muito tempo técnico no famoso INRA, um período em que ganhou um enorme prestígio na protecção integrada em vinha, em França e em outros países na Europa. Fale-nos desta sua experiência no INRA.

Originário de uma família dedicada à viticultura, fui desde muito cedo atraído pela viticultura e particularmente pelos problemas que impediam o seu bom desenvolvimento. Tive uma longa carreira como pesquisador no INRA, Instituto Nacional de Pesquisa Agronómica, em Bordéus, de 1960 a 2000.

De 1960 a 1980, fui responsável pela experimentação de fungicidas de vinha, em particular sobre a escoriose, a black-rot, o oídio, o míldio e a podridão cinzenta.
De 1970 a 1984, as minhas actividades pessoais estiveram mais ligadas à biologia e epidemiologia do agente responsável pela escoriose (Phomopsis viticola), e à pesquisa de novos métodos para o seu combate. As pesquisas que conduzi permitiram-me obter o doutoramento "Mention Sciences" da Universidade de Bordéus, e de me tornar especialista a nível internacional.

De 1984 a 2000, fui responsável pelo Laboratório de experimentação de novos fungicidas para vinha, em que os objectivos eram diversos: definir as condições óptimas de eficácia das novas moléculas, desenvolvimento de novos métodos experimentais ou métodos de tratamento originais, destacar os eventuais efeitos secundários, ajudar os industriais na escolha de estratégias. Paralelamente a estas actividades, prossegui com as pesquisas sobre as consequências fitossanitárias da colheita mecanizada nomeadamente na microflora dos sarmentos e a podridão cinzenta). De entre as minhas actividades animei e participei em diversas iniciativas, colóquios, congressos, simpósios, sessões de formação e conferências, destinadas à difusão e a valorização dos resultados do meu trabalho.

Sou autor de numerosas publicações nas principais revistas técnicas e científicas. Fui galardoado em 1985 com o Prémio Científico Xavier BERNARD, atribuído pela Academia de Agricultura de França.

A experiência adquirida no âmbito da Fitopatologia vitícola e após 40 anos de carreira no INRA levou a que fosse cada vez mais solicitado, quer a nível nacional quer internacional, para contribuir no quadro de missão de estudos para um apoio técnico dos problemas causados pelas doenças.

A minha actividade pós INRA tem sido orientada, a partir de 2000, como consultor Fitovinícola, para a transmissão do meu conhecimento e experiência na condução e protecção racional, ou integrada, da vinha.


A vitivinicultura em França

O INRA é um dos pilares no desenvolvimento da agricultura em França. Quais as suas atribuições e de que forma chega a informação aos agricultores?

O INRA, Instituto Nacional de Pesquisa Agronómica, foi criado em 1946. Os seus primeiros desafios foram a luta contra a penúria de produtos alimentares e o desenvolvimento da agricultura, enfraquecida após o fim da Segunda Grande Guerra. Os seus trabalhos fundamentais e aplicados permitiram inúmeras inovações, com o objectivo de aumentar o nível dos rendimentos e reduzir o custo de produção da maioria dos produtos agrícolas.

A pesquisa, nomeadamente nas diversas áreas da biologia, modificou-se profundamente no decurso das décadas. O mesmo sucedeu ao mundo rural e à sociedade em geral. Novos imperativos alargaram as áreas de intervenção do INRA com diversos parceiros: preocupações ambientais, qualidade dos produtos agrícolas, desenvolvimento das indústrias alimentares, planeamento territorial, e outros.

Cerca de 60 anos de existência constituem assim um conjunto complexo de investigação, levada a cabo por homens e mulheres, cujo trabalho e competências foram por sua vez enriquecidos e diversificados.

O INRA é composto por 22 centros de pesquisa, distribuídos por França, as Antilhas e a Guiana. É responsável por trabalhos de pesquisa científica: estudos de solo e climas, melhoramento da produção vegetal e animal, conservação e transformação de produtos agrícolas em produtos alimentares, biotecnologia e indústrias adjacentes, protecção e gestão de novos recursos naturais, problemas sociais económicos do mundo rural, novas fontes de energia, publicação e difusão das suas investigações, participação na valorização das suas investigações e da sua experiência. Emprega mais de 8000 pessoas, 300 das quais são investigadores.

A França é sem qualquer dúvida uma referência em viticultura a nível mundial. Quais os principais factores para o sucesso da viticultura francesa?

A viticultura francesa integrou-se na maior vinha do mundo, a vinha da Comunidade Económica Europeia. A viticultura francesa, importante e com prestígio, produz principalmente vinho, bebidas espirituosas famosas como o Cognac e o Armagnac, e uvas de mesa. Um dos factores determinantes para o seu sucesso está ligado à imensa diversidade de solos e de micro-climas, que lhe conferem características incomparáveis, e à selecção das castas efectuada através dos tempos, fizeram a glória dos vinhos franceses, muito imitados, pelo que os podemos encontrar actualmente nos 5 continentes.

A viticultura francesa tem servido desde sempre de modelo a todos os países que desenvolveram esta cultura. Tem de admitir-se que o conhecimento da vinha ao nível da ampelografia e do melhoramento varietal, a sua adaptação aos solos mais difíceis, produção de cepas, sistemas de condução, manutenção dos solos e alimentação mineral e fertilização, e a sua protecção contra as doenças e predadores, foram objecto de investigações aprofundadas e que posicionaram a França como um país vitícola de referência.


A vinha portuguesa e a protecção fitossanitária

Possui já uma larga experiência como consultor no sector vitivinícola português. Qual a sua opinião sobre o sector?

A vinha em Portugal ocupa uma superfície muito importante, cerca de 270.000 ha. É, provavelmente, um dos países vitícolas com a maior superfície cultivada em relação à superfície do território nacional. A diversidade da vinha portuguesa é enorme. Das 8 regiões produtoras de vinho de qualidade, destaca-se particularmente a do Douro, que produz o mundialmente renomeado Vinho do Porto. Outros vinhos de qualidade são os Vinhos Verdes, produzidos no norte, o vinho do Dão, do Ribatejo, do Alentejo e do Algarve. De salientar algumas particularidades interessantes que se exportam bem, como o Moscatel de Setúbal e o vinho da Madeira. A viticultura portuguesa vive actualmente uma verdadeira revolução cultural. Está empenhada de forma exemplar na produção de vinhos de qualidade, que corresponde à evolução dos gostos dos consumidores. Os esforços na qualidade encetados recentemente deverão tornar-se economicamente rentáveis para esta profissão corajosa.

Portugal, tal como a França, salvaguardando as diferenças em dimensão, tem o chamado "terroir", ou seja, tradição, solo e castas apropriadas para a viticultura e a produção de vinho. Na sua opinião o que falta a Portugal para se tornar uma referência no sector a nível mundial?

A viticultura portuguesa não deverá deixar tentar-se por um efeito de moda internacional que coloca cada vez mais à disposição do consumidor um vinho tecnológico, sem defeitos, mas sem alma e sem as características do seu país de origem. Atenção ao desenvolvimento de técnicas culturais, como a irrigação, importadas do hemisfério sul, que poderão alterar o carácter original dos vinhos portugueses. É bom relembrar que algumas vinhas portuguesas famosas continuam a produzir vinhos excelentes sem terem de recorrer aqueles métodos. Graças ao progresso técnico adq