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Entrevista Prof. Edison Pasqualini-Univ. de Bolonha

27/11/2003, Engº Isidoro Paiva-Comunicação
Entrevista Prof. Edison Pasqualini-Univ. de Bolonha

É cada vez mais importante incentivar a troca de experiências entre os técnicos dos diversos países.



Por detrás do técnico está sempre o homem. Quem é o Edison Pasqualini?

É um homem que gosta de conviver e de comunicar quando isso lhe é solicitado. Todas as experiências são importantes para mim, pois, felizmente, tenho um carácter muito aberto ao mundo.

Quem é o professor Edison Pasqualini?

Sou uma pessoa com sorte, pois tenho a possiblidade de transferir as experiências da investigação a estudantes, técnicos e agriculturores. Tenho a possibilidade de trocar com frequência informação com diversos investigadores e técnicos que sabem realmente quais são os problemas e a forma de os melhorar, se possível, ou de os resolver.

É professor na primeira e mais prestigiadas universidades do mundo, a Universidade de Bolonha. Fale-nos sobre a sua experiência como professor universitário.

A minha experiência como professor universitário não é muito longa. Infelizmente, não tenho conseguido ensinar de forma continuada. Tive uma série de oportunidades para leccionar Entomologia na universidade, em particular Entomologia geral e Protecção Integrada em fruteiras. Lecciono também Entomologia em diversos institutos de investigação, organizações profissionais, quer em Itália quer noutros países.


Fruticultura e PI em Itália


A Itália é, em geral, e a região de Emilia Romana, em particular, uma referência no sector da fruticultura na área da Protecção Integrada na Europa e no mundo. Quais os factores principais para este sucesso?

Em primeiro lugar, tenho de dizer que o sistema cooperativo, as organizações de agricultores, encontra-se muito bem implementado na minha região, Emilia-Romagna, pelo que é bastante fácil envolver os agricultores e as suas organizações no projecto da Protecção Integrada. Quando tudo começou, há cerca de 30 anos, o factor económico era o único que contava para os agricultores devido à redução do número de tratamentos. Mais tarde tornou-se mais importante o factor da saúde humana, nomeadamente a do próprio aplicador. Penso que a Protecção Integrada tem crescido em importância e alcançou uma vasta aceitação, devido ao seu objectivo educativo. Ninguém se encontra hoje no "Ground Zero" no sistema de Protecção Integrada. Todas as pessoas envolvidas nos métodos de controlo estão bem informadas sobre as pragas, modos de acção dos pesticidas, métodos de amostragem, etc. Contudo, é necessário uma formação contínua de forma a manter um bom nível de gestão da Protecção Integrada.


A Produção Integrada é uma tradição e já uma história em Itália. Fale-nos sobre a história da PI em Itália?

A região de Emilia-Romagna é em Itália uma das regiões piloto na aplicação de sistemas de Protecção Integrada. Uma das instituições mais importantes, há muito tempo empenhada em programas de desenvolvimento é o Instituto de Entomologia "Guido Grandi". Este intituto desenvolveu trabalhos na área do controlo biológico, como uma alternativa comercial viável aos pesticidas químicos, concepção de novos modelos e também na área da biotecnologia. Em Itália, nos anos 50, a primeira pessoa a envolver-se no conceito de PI foi a Profª Maria Matilde Principi, directora do Instituto de Entomologia "Guido Grandi" da Faculdade de Agronomia da Universitade de Bolonha. Após um período inicial de investigação no campo, a PI começou primeiro a ser implementada em pomóideas e mais tarde em prunóideas e vinha. Actualmente, o número de culturas em sistema de PI é mais de 40, com recomendações a nível de insectos, fungos e infestantes. São cerca de 170 mil hectares de superfície total incluída no projecto IPM, que representam 14% da superfície agrícola cultivada.

O modelo de Protecção e de Produção Integrada praticado em Itália envolve na sua concepção e divulgação diversos agentes de âmbito regional,com a produção dos célebres “Disciplinari di Produzione Integrata ". Quais os seus princípios básicos e e como funciona este sistema?

A redução de pesticidas químicos e a limitação, sempre que possível, dos seus efeitos nefastos são os objectivos principais da Protecção Integrada. Estes objectivos podem ser alcançados através de tomadas de decisão adequadas a três níveis: se, como e quando intervir. Os critérios a aplicar para a implementação destas decisões podem variar, ao nível operacional, de sector para sector, Exemplificando com a problemática do controlo das pragas:

O se, este é o primeiro e fundamental passo do processo de tomada de decisão: enquanto que tomar uma posição do ponto de vista intelectual é um assunto simples, aplicá-la é tudo menos simples. Implica a subordinação de qualquer medida que possa ser tomada contra o risco concreto de prejuízos colocado pelas pragas. Este é um risco que deve ser avaliado através da monotorização temporal (samplings) das pragas, variando a monitorização consoante a espécie e o seu comportamento. Na prática a decisão de intervir com um tratamento depende da biecologia das pragas, e especialmente do nível e da dinâmica das suas populações, o que nos leva ao conceito do nível económico de ataque, que liga o tratamento ao real prejuízo ou dano económico e à noção de tolerância.

Este conceito é um príncipios básicos da Protecção Integrada, e um dos mais acaloradamente debatidos.

Demonstrou-se de facto que para algumas espécies de pragas só será necessário intervir se estes estiverem presentes na cultura, um exemplo é a Cochonilha de S. José, ou para prevenir o seu ataque, um exemplo é o piolho verde da macieira. Para outras espécies o conceito de "intervenção imediatamente antes do início dos prejuízos" deverá ser mantido, apesar de em certos casos os valores númericos serem tão limitados que as decisões têm de ser adiadas. Intervir ou não intervir, depende igualmente da proporção das populações das pragas pragas em relação ao seus inimigos naturais como os organismos naturais. Em alguns casos os tratamentos têm de ser adiados ou tornam-se mesmo desnecessários perante este ratio praga vs. organismos auxiliares e as condições que poderão favorecê-los. É nesta fase que os métodos de estimativa de risco como as armadilhas sexuais assumem um papel importante, pois podem indicar se e quais as espécies encontradas num determinado pomar.

Como: Este é o próximo nível de tomada de decisão e implica a escolha de que estratégias e que tipo de substância activa a aplicar. A aplicação certa de uma determinada substância activa, especialmente em relação ao volume de água de pulverização, bem como o pH da água, têm aqui uma importância decisiva

Quando: O passo seguinte é a calendarização dos tratamentos. A importância de retirar o maior benefício da(s) substância(s) activa(s) escolhida(s) implica a determinação do tempo certo de aplicação e intervalos entre tratamentos. Depende igualmente, entre outros factores, da biologia, do estádio de desenvolvimento da espécie da praga e também das características da substância activa. Se se aplicam os reguladores de crescimento dos insectos, a determinação do tempo certo assume particular importância, dada a limitada janela de aplicação, característica destes produtos. Particularmente útil nesta fase de decisão são os modelos previsionais: disponíveis para as pragas mais perigosas, estes provaram ser fiáveis a indicar o momento mais oportuno para a aplicação de substâncias activas com certas características.

Os "Disciplinari di Produzione" são elaborados com base nos critérios mencionados e para a sua elaboração é necessária uma grande organização regional que envolve vários agentes, como as universidades, associações de produtores, serviços de aviso e outros.


A Protecção Integrada em Por