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Entrevista ao Prof. Pedro Amaro (ISA)

12/12/2005, Entrevistador: Engº Isidoro Paiva-BCS
Entrevista ao Prof. Pedro Amaro (ISA)

…A Produção Integrada ao ter sempre presente a indispensabilidade de assegurar a defesa do homem e do ambiente é a melhor alternativa de Agricultura sustentável em Portugal…




Quem é o cidadão Pedro Amaro?

Alentejano, nascido em Vila Viçosa no dia de S. Pedro em 1926, filho de funcionários públicos, escolhi Agronomia, em 1943, por gostar de Biologia e por influência do prestígio da Estação de Melhoramento de Plantas de Elvas, cidade onde então residia com os meus pais. Com persistente entusiasmo por xadrez, ténis, futebol, leitura e viagens, recordando, sempre com saudade e entusiasmo, a viagem a Angola, entre Junho e Setembro de 1955, e o inquérito ao armazenamento de produtos agrícolas e a cooperação, ao longo dos anos 60, às actividades de investigação e ensino agrícola em Nova Lisboa (Chianga).

Quem é o Professor Pedro Amaro? Fale-nos, por favor, um pouco do seu percurso profissional.

Após a licenciatura em Engenharia Agronómica, concluída, em 1951 em pleno período de serviço militar, com um relatório final na área da protecção das plantas (prejuízos causados por pragas do trigo armazenado), fui docente no Instituto Superior de Agronomia entre 1952 e 1957 (Ass. de Química Agrícola e de Fitofarmácia), 1967 a 1973 (Prof. Extraordinário de Fitofarmácia, e desde 1970 de Fitofarmacologia) e de 1977 a 1996, ano do Jubileu, Prof. Catedrático de Fitofarmacologia e de Protecção Integrada. Dei início no ISA e em Portugal ao ensino da Fitofarmácia/Fitofarmacologia em 1955, da Herbologia em 1971 e da Protecção Integrada (módulo de 8 horas desde 1977) e três disciplinas entre 1989 e 1996.

No 2º semestre de 1954 fiz uma especialização em Ciências dos Pesticidas no Laboratório de Phytopharmacie , França. Após três anos de investigação sobre a toxicidade dos fumingantes para o ácaro da farinha , Acarus siro no Pest Infestation Laboratory, Slough, Reino Unido, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, concluí, em 1963, o doutoramento (Ph.D) na Universidade de Reading.

Responsável, de 1959 a 1967, pela organização e funcionamento do Laboratório de Fitofarmacologia e pelo início da homologação dos pesticidas agrícolas. Sub-Director Geral do Ensino Superior (1973/74), Presidente do Instituto Nacional de Investigação Agrária desde a sua criação em 1974 até 1977 e Presidente do Conselho Directivo do ISA (1983/87). Vice-Presidente e Presidente (1967/73) do Conselho Europeu de Herbologia e Coordenador do Mestrado em Protecção Integrada (ISA) desde a sua criação em 1989.

INVESTIGAÇÃO E ENSINO

Foi Professor Catedrático durante anos no Instituto Superior de Agronomia (ISA). De que forma, esta experiência como docente marcou o seu percurso como técnico na área da protecção das plantas?

Exceptuando oito anos de actividade de gestão, os restantes 46 anos de actividade profissional, como docente, investigador e divulgador, foram sempre na área da protecção das plantas, com especialização nas áreas da ciência dos pesticidas e da protecção integrada.

O que pensa da actual situação do ensino agrícola no nosso País e de que forma é que este podia contribuir para a melhoria da agricultura em Portugal?

Alguns bons exemplos do ensino secundário agrícola, nomeadamente na área da protecção das plantas e em particular da protecção integrada, como se verifica na Escola Profissional Agrícola Fernando de Barros Leal em Runa, no Oeste, deveriam ser devidamente ponderados assim como a optimização da reciclagem dos professores deste grau de ensino e das actividades de natureza prática para melhorar e aumentar com qualidade, progressivamente, a formação de técnicos e de jovens empresários agrícolas com este nível de ensino de grande importância para a melhoria da agricultura.

Quanto ao ensino superior, os erros cometidos na excessiva expansão do número de universidades com ensino agrícola e de escolas superiores agrárias exigem uma corajosa revisão da situação actual, porventura, até com o encerramento de unidades que se verifique terem difícil futuro e a intensificação de apoio financeiro às unidades responsáveis pelo ensino e investigação de melhor qualidade. Só assim o ensino superior e a investigação poderão optimizar a sua contribuição para o progresso da agricultura em Portugal.

A formação profissional em áreas como protecção integrada e produção integrada poderá contribuir para a tão importante melhoria e reciclagem da qualidade dos técnicos e dos agricultores (em particular visando o IV Quadro de Apoio à Agricultura Portuguesa) mas é indispensável a rigorosa ponderação da experiência adquirida e a revisão dos programas, em particular a formação prática, e a eliminação dos erros cometidos bem evidenciados pelo monopólio de certos docentes (quase sempre os mesmos) apesar da evidência, nalguns, da sua deficiente qualidade. A melhoria da rendibilidade dos elevados meios financeiros despendidos nesta área exige intervenção urgente e bem fundamentada, precedida de participado debate.

Assiste-se, hoje em dia, ao final da carreira profissional de muitos dos técnicos que, tal como o Professor, constituíram ao longo dos anos uma referência na área da protecção das culturas. Pessoas que durante anos se especializaram em áreas bem especificas e que hoje, até fruto dos cortes orçamentais para o sector da investigação, não deixam “escola" para o futuro. Que comentário lhe merece este contexto de eventual perca de “massa crítica"?

Após muitos anos de penúria, impedindo o reforço, com pessoal de qualidade, nas unidades de investigação do Ministério da Agricultura, nalgumas áreas como a da protecção das plantas, a realidade referida é, de facto, preocupante. Combatendo os “ilustres" ignorantes que, por vezes, com carácter sistemático, são cépticos e maldizentes quanto à importância da investigação agrária e até à necessidade da sua existência, é urgente e decisivo tomar consciência da actual estrutura etária dos investigadores que persistem e adoptar corajosas medidas para fomentar a entrada de numerosos jovens, de qualidade, para as mais prometedoras e meritórias unidades de investigação agrária que ainda resistem.

A propósito da investigação agrária, na área da protecção das plantas, não se pode esquecer que a expansão das universidades e das escolas superiores agrárias e a diferenciação de departamentos e secções de Protecção das Plantas contribuiu favoravelmente para atenuar o panorama negro admitido nesta questão.

PROTECÇÃO INTEGRADA E AGRICULTURA SUSTENTÁVEL

Gostaria que definisse o que é, para si, o conceito de Protecção Integrada das culturas?

Agradeço-lhe e à Bayer a oportunidade de esclarecer, de forma necessariamente sintética, o meu conceito de protecção integrada (que é o da Secção Regional Oeste Paleárctica da Organização Internacional de Luta Biológica e Protecção Integrada - OILB/SROP), iniciado na Califórnia em 1959 e progressivamente enriquecido pela OILB/SROP em 1968, 1973, 1977, 1992 (1.ª Edição das Regras de Produção Integrada), 1999 e 2004.

Esta questão foi por mim abordada em numerosas publicações, sendo as mais recentes e significativas: 2002 - O que é a protecção integrada, Vida Rural, 1678 e o livro Os conceitos de protecção integrada e de produção integrada; 2003 - O livro A protecção integrada, em particular o Cap. 4; 2004 - O conceito de produção integrada da OILB/SROP de 2004 consolida a defesa do homem e do ambiente; 2005 - a minha intervenção - Sobre protecção integrada, no último Grande Prémio Auxiliares Bayer.

De uma forma sintética, o conceito de Protecção Integrada é definido por mim, em Julho de 2005, como a protecção das plantas praticada com recurso aos pesticidas, mas optimizando a protecção do homem e