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A escoriose da videira

29/03/2006, Engº Jorge Silva - Div. Técnica
A escoriose da videira

Causada pelo fungo Phomopsis viticola Sacc.. que está presente em quase todas as áreas de vinha de Portugal.

A escoriose é uma das principais doenças da videira e é causada pelo fungo Phomopsis viticola Sacc.. Este fungo está presente em quase todas as áreas de vinha de Portugal e a sua incidência tem vindo a aumentar nos últimos anos.

A proibição do arsenito de sódio e do DNOC, que eram usados em muitas regiões em tratamento de Inverno e, em geral, um mau posicionamento dos tratamentos são causas para a sua expansão. Os seus prejuízos são função do estado sanitário de cada vinha (presença de inóculo) e fazem sentir-se com maior gravidade em anos com Primaveras chuvosas. Os pâmpanos mais atacados quebram, muitas vezes, pela base numa fase posterior do seu desenvolvimento levando á morte de braços. O grande número de gomos basais inviáveis obriga a que na poda se deixe um maior número de gomos por talão ou pelo contrário a cortes pronunciados (mutilações) que são porta de entrada a outras doenças da videira, vulgarmente designadas por doenças do lenho.

CICLO BIOLÓGICO DA ESCORIOSE

O fungo Phomopsis viticola Sacc. pode hibernar sob a forma de picnídios formados sobre os talões necrosados ou sobre as varas e de micélio presente nos talões e em certos gomos deixados na poda, em particular os basais.
Na Primavera, perto do abrolhamento o fungo entra em actividade. Os picnídios emitem cirros e em presença de humidade resultante de orvalhos ou chuvas os esporos vão sendo libertados. As gotas de chuva projectam os esporos sobre os tecidos novos. Os esporos germinam bem em presença de água e podem, facilmente, contaminar os jovens lançamentos que abrolharam (pâmpanos) se estes se mantiverem molhados durante um período suficiente (cerca de 10h). Após um período de incubação de uma a três semanas surgem os primeiros sintomas da doença, de forma pouco visível mas que evolui em lesões nos entrenós da base dos pâmpanos. O micélio existente nos gomos acompanha desde o início a fase de abrolhamento da videira desenvolvendos-se à superficie dos pâmpanos.

No Verão a doença evoliu manifestando sintomas bem conhecidos: na base das varas necroses fusiformes acastanhadas. É nesta época que os gomos são contaminados pelo micélio.

No Outono é possível observar na base das varas atacadas pela escoriose lesões deprimidas e fusiformes típicas, um esbranquiçamento cortical, e a presença, numa fase mais avançada, de picnídios (pequenas pontuações) de cor negra resultantes do processo de maturação do fungo. O micélio que se instalou nos gomos permanece latente até à Primavera seguinte.

TRATAMENTO CONTRA A ESCORIOSE

Em vinhas novas plantar apenas material certificado. Em vinhas já instaladas a vigilância das parcelas de vinha deve ser permanente. Como medida cultural deve deixar-se um maior número de "olhos" na poda já que os gomos basais se tornam inviáveis. A madeira de poda deve ser removida e queimada.

A decisão de intervir contra esta doença depende de três factores, para além da sensibilidade das castas, da receptividade da videira (com uma proporção determinada de gomos abrolhados), do estado sanitário que pode ser efectuado a partir de observações efectuadas durante a poda e de chuvas previstas para este período já que são elas que causam um risco de contaminação. Sempre que um destes três principais indicadores não ocorra o tratamento poderá não ser realizado. Caso contrário, como quase sempre sucede nas nossas condições climatéricas, é necessário estar atento ao desenrolar do período de abrolhamento da videira e proceder a aplicações preventivas de fungicidas homologados em Portugal contra a escoriose.

Em geral, recomendam-se dois tratamentos para os fungicidas de contacto ou superfície (como por exemplo, o Antracol e o Mancozan): o primeiro desde que 30 a 40% dos gomos da base dos talões e/ou varas atingiram o estado sensível (a partir do estado fenológico C - "ponta verde") e o segundo quando essa mesma proporção de gomos evoluiu para o estado de 2 a 3 folhas separadas. O intervalo entre estas duas aplicações pode variar por um período entre 4 e 10 dias dependendo das condições climatéricas.

Da gama de fungicidas da Bayer CropScience homologados contra a escoriose a nossa recomendação vai para o Rhodax Flash. Este fungicida é uma formulação WG (com tecnologia Flash) de aglomerados dispersíveis em água à base de fosetil-alumínio e folpete. O fosetil-alumínio aplicado sobre os gomos abrolhados migra no interior dos tecidos para os ápices de crescimento mas a excelente persitência de acção desta associação resulta também da acção do parceiro na mistura, o folpete.

A aplicação sobre lançamentos mais adiantados na fase de tratamento tem acção sobre a colonização dos jovens pâmpanos pelo micélio proveniente dos gomos. Recomenda-se uma aplicação desde que 30 a 40% dos gomos da base dos talões e/ou varas atingiram o estado sensível (estado fenológico C-D). Nalgumas castas uma segunda aplicação poderá ser necessária. A concentração recomendada é de 300 g/hl. O volume de calda deverá ser de 300 l de calda por ha. Os tratamentos devem ser efectuados a alto volume e dirigidos aos órgãos a tratar. Em muitos países os pulverizadores utilizados nestas aplicações dispõem de painéis recuperadores de calda.

Para mais informações recomendamos a consulta de bibliografia especializada e, uma vez tomada a decisão de intervir, uma leitura atenta dos rótulos.

A escoriose da videira
A escoriose da videira