Notícias

Entrevista com Engº Torres Paulo (ANP) Visita à Nova Zelândia

07/11/2005
Entrevista com Engº Torres Paulo (ANP) Visita à Nova Zelândia






“É tempo de a fruticultura de amanhã ser planeada hoje!"

Enquadrada no curso de pós–graduação em fruticultura do Instituto Superior de Agronomia (ISA) em colaboração com a Associação Nacional de Pêra Rocha(ANP) e com o patrocínio da Bayer CropScience realizou-se, de 25 de Fevereiro a 7 de Março, uma visita à Nova Zelândia .

Esta visita contou com a participação de um grupo de 26 técnicos ligados ao sector, nomeadamente técnicos de fruticultura da região do Oeste e investigadores universitários.

Tendo como objectivo aprender com a fileira frutícola de um dos países “referência" a nível Mundial na área das Maçãs e dos Kiwis, esta viagem constituiu uma experiência inesquecível para todos que nela participaram pela enorme aprendizagem e troca de conhecimentos que possibilitou .

A Bayer CropScience que patrocinou a visita, aproveitou este acontecimento para entrevistar o Eng.º Torres Paulo, presidente da ANP e um dos técnicos que participou nesta visita.


Em termos globais, nesta visita à fruticultura da Nova Zelândia que aspecto ou aspectos lhe merecem maior destaque?

Os portugueses têm por hábito queixar-se. E apresentam numerosas razões para justificar as falhas e os fracassos que vão ocorrendo na sua vida profissional e pessoal. São as chefias directas ou indirectas que não permitem um bom desempenho, as condições climáticas que não permitem boas produtividades, a distância à Europa e a necessidade de atravessar Espanha para colocar os nossos produtos exportáveis num mercado competitivo, é o Estado omnipresente e inibidor da livre iniciativa, são em suma um grande rol de "desculpas" para o "azar" nacional que nos impede de sair da cauda da Europa.

A Nova Zelândia é um país constituído por duas ilhas vulcânicas, nos antípodas da Europa, rodeado por povos diferentes, asiáticos, e essencialmente rural até finais da década de 80. Contavam-se histórias da Nova Zelândia descritivas desse isolamento, nomeadamente aquela em que os comandantes dos aviões que aterravam, informavam os passageiros vindos da Europa e dos Estados Unidos, que para acertar a hora deveriam "atrasar os relógios 20 anos".

O que encontrámos na Nova Zelândia foi um país de grande base agrícola, com um desenvolvimento muito elevado, produzindo essencialmente para exportar, muito apoiado na investigação e experimentação. Mas a grande diferença que sobressai é o espírito de iniciativa das pessoas e a sua atitude perante a vida. A cultura e a tradição inglesas e a situação de relativo isolamento criaram nos produtores, nos técnicos, nos comerciais e nos investigadores com quem estivemos uma atitude vencedora perante os desafios que a vida coloca.

É nas pessoas que radica a diferença entre grupos, empresas ou sociedades. Aquelas que vencem e prosperam têm certamente por base o empreendedorismo e a formação e a cultura que aí encontrámos. Deste modo, adversidades como os fortes ventos, as grandes distâncias relativamente a outros mercados, o facto de ser o único país do hemisfério Sul produtor de fruta em que se respeitam as condições de trabalho (tal como são concebidas na Europa) são encarados como desafios, para os quais têm tido capacidade de encontrar respostas.


Em termos comparativos, entre as fileiras frutícolas de Portugal e da Nova Zelândia quais as principais diferenças que encontrou?

Para além do factor humano, a grande diferença entre a realidade portuguesa e a que visitámos reside no modo como trabalham, na definição de metas que vão atingindo. Quanto ao modo como trabalham baseia-se na programação com o objectivo de escoar a produção para mercados externos. O produtor, o técnico, o investigador trabalham em função dessa programação - produzir (frutos, tecnologia, conhecimento) para melhorar a eficácia da exportação. Cito como exemplo, o facto de os fruticultores não nos falarem de produtividades expressas em toneladas por hectare, mas sim no número de caixas exportáveis que produziam. Do mesmo modo, tanto nos descreviam as suas questões relativas a temas do pomar, como às respeitantes aos mercados e ao escoamento da produção, bem como as da interligação com os centros de desenvolvimento experimental.

A meta que definiram é simples: produzir qualidade. A dimensão da Nova Zelândia é semelhante à nossa, em termos de área. Mas em termos de produtividade e de qualidade do produto final, a diferença é grande.

A investigação é, inquestionavelmente, um dos factores diferenciais para a competitividade da fruticultura da Nova Zelândia. Visitaram os centros de investigação da Hortresearch, ligado aos Kiwis, em Te puke e também em Havelocknorth na área das Maçãs. Como estão organizados e quais as diferenças em relação à realidade portuguesa?

Em Portugal apenas existe um Centro de desenvolvimento de fruticultura na estação Vieira da Natividade em Alcobaça. É um centro que não funciona, desde há muitos anos, mas que mantém um elevado número de funcionários. A incapacidade estatal em definir e desempenhar o seu papel, consumindo elevados custos sem nada produzir, está bem patente neste caso da fruticultura portuguesa.

Na Nova Zelândia, país com menos de metade da nossa população, existe uma rede de 11 centros de investigação de horto-fruticultura, que envolvem 500 funcionários, maioritariamente investigadores. Foi agradável ouvir e constatar que os Centros existem para dar resposta a questões concretas da fruticultura. A fruticultura de hoje é também resultado das respostas da investigação, que produziu novas culturas comerciais como o kiwi, que encontra espaço no mercado para um kiwi amarelo ou um kiwi orgânico. Foi interessante poder falar com o investigador Brookfield, o "pai" da Brookfield (GALA). Foi enriquecedor perceber que os princípios base que orientaram a os conceitos para projectar as centrais de conservação e embalamento de fruta.


Uma das políticas de diferenciação dos “produtos" frutícolas utilizadas pela Nova Zelândia é a questão das “Patentes" de variedades. Como percebeu esta estratégia?

Uma das metas dos Centros do HortResearch é obter novas variedades adequadas às condições de produção e ao mercado. As novas variedades que vão obtendo ficam sujeitas a um sistema de patente. Sobre a utilização futura dessa árvore recai uma taxa de que é beneficiário o HortResearch. O valor actual dos proveitos desta estratégia é significativo e encoraja a novos resultados. Um dos últimos produtos obtidos é a maçã Jazz para a qual se concebeu toda uma nova estrutura de promoção e comercialização devidamente registada. Tivemos oportunidade de visitar pomares de Jazz e de entender os planos de marketing dirigido.


Durante a visita houve um dia Bayer Cropscience, em que foram visitados campos de ensaios da empresa em Macieiras , bem como agricultores de referência e o maior distribuidor da companhia a “ Fruitfed Supplies". Algum aspecto, ao nível dos problemas fitossanitários e/ou soluções a destacar quanto aos modelos praticados na área da protecção das culturas?


Pareceu-nos que a relação existente entre os produtores da Nova Zelândia e a Bayer CS local era uma relação estreita, com uma boa relação profissional de confiança mútua, tal como a existente em Portugal.

Uma mensagem final para os fruticultores portugueses?

Quero deixar expresso o agradecimento da ANP e especialmente dos aluno deste curso à Bayer CS pelo apoio que prestaram e pelo modo como fomos recebidos no "Dia Bayer". Estou certo que outras oportunidades surgirão para a Fruticultura nacional e a Bayer CS cooperarem. O X Pear Symposium a realizar em Maio de 2007, no Oeste, organizado pela ANP poderá ser mais um exemplo de cooperação entre um associação regional e uma empresa mundial.

"O que nos acontece hoje, foi planeado

Entrevista com Engº Torres Paulo (ANP) Visita à Nova Zelândia