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Entrevista: Profº Rogério de Castro

26/02/2007
Entrevista: Profº Rogério de Castro

Após a participação no Fórum Bayvitis e sendo um dos maiores especialistas mundiais na área da Viticultura, o Professor Rogério de Castro concede uma “verdadeira lição" de cultura sobre o “mundo“ da vitivinicultura.

Na sequência da sua participação no Fórum Bayvitis, o Professor Rogério de Castro, reconhecidamente um dos maiores especialistas mundiais na área da Viticultura concedeu-nos, não uma simples entrevista, mas uma “verdadeira lição" de cultura sobre o “mundo“ da vitivinicultura em Portugal e no Mundo.

Quem é o cidadão Rogério Albino Neves de Castro?

É descendente duma família numerosa oriunda de sucessivas gerações de agricultores de longa data e ligada à vitivinicultura. Fiel às suas origens, o “grande Porto" mas adepto do Belenenses desde a adolescência. Gosta de ler, mas o tempo escasseia. As suas preferências vão para Ernesto Veiga de Oliveira, Orlando Ribeiro, Miguel Torga e Eugénio de Andrade. Praticou atletismo mas gosta sobretudo do hóquei e de ciclismo, mas o desporto que o fascina desde a meninice é praticar agricultura e cada vez mais viajar.

E o Professor Rogério Castro, conte-nos a história do seu percurso profissional?

O meu percurso profissional foi-se construindo, criando seu próprio caminho caminhando! Quando estava na 3ª classe do ensino primário fiz uma redacção sobre “O que queres ser quando fores grande". Entretanto o velho Professor Afonso quis falar com meu pai - creio que terá sido a única vez que meu pai foi chamado à escola – motivo: “Sr. Ferreira de Castro estou preocupado com o seu filho Rogério, olhe o que ele escreveu na redacção: …eu não quero estudar mais porque quero ser Agricultor. Se continuasse a estudar tal como meus irmãos ia para Agrónomo, mas não quero…".

Ficaram pais e irmãos apreensivos. Eu vingaria minha convicção e seria agricultor jovem adolescente em full-time. Tudo se foi fazendo. Cada coisa a seu tempo. Aos 10 anos uma certeza: - “Não iria estudar mas se fosse seria Agronomia". O tempo passa depressa, entretanto já com pais falecidos eis-me no ISA a cursar Agronomia – estava cumprida a minha apetência (… se fosse estudar…) e ultrapassada a apreensão de meus familiares decorrente da minha rebeldia – (“… eu não vou estudar"). Com o curso na fase final sou seleccionado e para Monitor de Viticultura, mas com uma nova certeza: …não ficarei em Lisboa, nem ficarei no ensino.

Estagio na CVR Vinho Verdes e entretanto a leccionar no ISA – Horticultura, Fruticultura e Viticultura. Após um ano de Assistente e a estudar como doido, vem ímpeto forte de “experimentalista" e rapidamente dei por mim a semear ensaios por todo o pais. Cedo comecei a fazer estágios fora do pais. Todos os anos aproveitava pausa (férias) escolare em diversas Estações de Investigação: França (Bordéus, Anger e Montpellier), Inglaterra (East Malling), Itália (Turim, Bolonha e Conegliano), Suiça (Changins e Wadenswil). E qual o meu espanto, o “bicho do ensino" e o “espírito ensaísta" tomaram conta da minha vida.
Doutoramento feito, sucedem-se projectos de investigação – INIC, JNICT, AGRO, PAMAF… entretanto projectos comunitários sobre minha responsabilidade ou responsabilidade por Portugal.

Veio a Agregação – as provas que me deram mais gozo em toda a vida académica. Sucederam-se os eventos internacionais, ora no âmbito de projectos comunitários, ora através de participações da mais diversa índole: OIV, ASHS e sobretudo GESCO – Groupe d´Études des Systèmes de Conduite de la Vigne, cujo “Bureau" e Comité Cientifico integro desde 1993, presidindo à Comissão “Maîtrise du Rendement et de la Qualité". Surgem então oportunidades fora da Europa – Japão, Brasil, Uruguai, Chile, EUA….

Viriam entretanto dois honrosos convites que enjeitei – Chairman para a Viticultura da ASHS (International Society for Horticultural Science) então para suceder ao prestigiado viticologo Australiano Possingam, e para Referee de projectos de investigação na área da viticultura na Comunidade Europeia (Bruxelas). No meio disto, uma velha Quinta da família iria ser vendida. Não deixei. – Uma aventura já com mais de 20 anos, muita paixão, alegrias e angústias mas, profunda e permanente aprendizagem.

INVESTIGAÇÃO E ENSINO

É o Professor Catedrático no Instituto Superior de Agronomia (ISA) leccionando também, como convidado, noutras universidades. De que forma, esta experiência como docente marcou e marca o seu percurso como técnico na área da viticultura?

Eu punha a questão ao contrário: de que forma a sua experiência pedagógica como agricultor e como técnico marcou o seu percurso como Professor de Viticultura? Mas vou tentar responder à v. questão. Muitas vezes pensei, ainda estudante e mesmo já como docente que pela exigência da maioria dos alunos, para se ser “bom" professor bastará ter certo jeito para o teatro. Mas não é pedagogo quem quer, tão pouco quem apenas gosta de teatro, mas ajuda. É minha convicção que no Ensino Superior sobretudo em áreas tecnológicas não será “bom" professor quem não tiver de modo subjacente uma actividade de investigação. Eu não sou capaz de dar uma boa aula sem um guião resultante do estudo e experiências vividas. Em cada aula que dou descubro novos mundos. Para mim ensinar é isso mesmo. Em cada coisa que se ensina descobre-se arestas que é preciso limar e as nossas ideias saem mais claras. As coisas mais complexas têm que atingir sempre um elevado nível de simplicidade.

O que pensa da actual situação do ensino agrícola no nosso País e de que forma é que este podia contribuir para a melhoria da agricultura em Portugal em geral e do sector da Vitivinicultura em particular?

Eu tenho sempre dúvidas se é o tipo de ensino, neste caso agrícola, que condiciona o respectivo sector ou se o contrário. Creio que há aqui interacções, influências recíprocaras. É certo que quanto maior é o grau de conhecimento, o nível de formação, mais eficiente e profícua será a intervenção de cada um de nós na respectiva área profissional e na sociedade em geral.

O Ensino agrícola sofreu recentemente uma evolução muito questionável. Proliferaram escolas superiores (Universidades e Politécnicos) e desapareceram os não superiores, ficando à mingua os cursos verdadeiramente profissionalizantes. Será interessante avaliar o ensino em função do desempenho de cada um, posteriormente na sua actividade profissional e na sua postura perante a vida. Somos um pais de extremos, doutores ou engenheiros e analfabetos. Num lado os que sabem muito, têm estatuto, logo “mandam fazer", noutro, os que operam, em geral pouco letrados. Todos sentimos a necessidade de um grande esforço de cultura, temos de ter engenheiros de facto com engenho e temos de ter operadores com mais saber e mais cultura. Especificamente na Vitivinicultura há mais conhecimento, mais investigação …, mas estamos longe de o potenciar. Há ainda hoje um escasso respeito pela viticultura, um enorme défice de sinergias entre as duas vertentes da vitivinicultura. Os países mais prósperos no mundo do vinho deram e continuam a dar uma grande importância à tecnologia vitícola. Portugal tem muito para mudar neste aspecto, eu tenho esperança porque isso não depende do querer, mas será uma fatalidade, em defesa da viticultura e para bem da enologia.

Nos últimos anos a sua actividade como investigador tem o levado a viajar por diversos países. Quer nos falar um pouco da sua experiência no Brasil de desenvolver a cultura da vinha na região de São Francisco uma região subtropical?

É verdade, tenho tido o privilegio de me cruzar com diferentes realidades, pessoas e regiões. Esta questão prende-se com outra já posta atrás, de facto a actividade de investigação e de ensino em viticultura tem proporcionado, e eu diria e naturalmente exigido vivências extraordinariamente ricas. Quando pensamos em viticultura situamo-nos num espaço entre as latitudes 30 – 50 dos dois hemisférios e sendo a videira uma caducifólia com um período de repouso invernal.

A nossa experiência no Brasil tem sido a descob