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Entrevista a Paulo Vacas de Carvalho-Topavi-pec

20/05/2009
Entrevista a Paulo Vacas de Carvalho-Topavi-pec

"...Sem dúvida que hoje aquilo que sou em parte devo-o aos forcados e, como se costuma dizer: forcado por um dia, forcado toda a vida."

O grupo de forcados nasceu no século XIX, no reinado de D.Maria II, como resposta há proibição dos touros de morte em Portugal. Descendentes directos dos antigos Monteiros da Choca, grupo de moços que, com os seus bastões terminando em forquilha ou forcados, defendiam na arena o acesso à escadaria do camarote do Rei, os forcados são um símbolo da coragem, confiança, determinação, amizade, e trabalho de grupo.

Nesta edição da revista Parceiros entrevistámos Paulo Vacas de Carvalho, alguém que transporta para a sua vida e para o seu trabalho, os valores da tradição dos forcados, fruto dos vários anos em que assumiu a liderança dos forcados de Montemor, um dos mais emblemáticos de Portugal.

Achas que como diz o povo:"A Pega é uma escola de virtudes"?

A cultura do grupo de forcados é: toca para a pega e saltamos para a arena. Há que dominar o medo, ter todos os reflexos à flor da pele. Citar, mandar na investida do touro e depois a reunião com um animal com 500 ou 600 kg. Como deves calcular todo este percurso faz-nos ter emoções muito fortes e difíceis de explicar. Para mim o Grupo de Forcados de Montemor é sem dúvida uma escola de virtudes. Entrei para o grupo com 16 anos e por lá andei durante 19 anos da minha vida. Foi nesse tempo que fiz os meus maiores amigos e, que com eles partilhei grandes momentos que jamais esquecerei.

Valores como a amizade, entreajuda, partilha, fizeram com que houvesse uma união entre nós e, só assim conseguia-mos superar qualquer dificuldade que nos fizesse frente. Sem duvida que hoje aquilo que sou em parte devo-o aos forcados e, como se costuma dizer: forcado por um dia forcado toda a vida.

Depois da “circunstância" o homem. Quem é o Paulo Vacas de Carvalho?

Paulo Vacas de Carvalho é o filho mais novo de uma família de 14 irmãos, casado, com 46 anos de idade é pai de 4 filhos. Vive em Montemor-o-Novo, onde nasceu. Gosta, como é óbvio, de tauromaquia, continuando, agora mais que nunca, ligado a seguir os primeiros passos dos seus filhos, o António com dezassete anos a iniciar-se como forcado e o Manuel com dezasseis como cavaleiro tauromáquico. No plano desportivo é um adepto ferrenho do Rugby Clube de Montemor, equipa que acompanha semanalmente nos jogos. Gosto também de fazer a minha semana de neve com a família, para a prática do esqui.


Qual foi o teu “caminho" profissional até chegares a sócio gerente da TOPAVI-PEC?

Formei-me em Engenharia Zootécnica na Universidade de Évora em 1986 e fui trabalhar para uma multinacional de alimentação para animais a CHAROEN POKPAND, passando depois para a concorrência a PURINA. Foi nessa altura que constitui, com dois amigos, a TOPAVI-PEC, empresa que começou por ser distribuidora de rações em Montemor-o-Novo.


TOPAVI-PEC Produtos Agro-pecuários, Lda

Como nasceu a TOPAVI-PEC?

Como referi anteriormente a TOPAVI-PEC nasce de um projecto, com dois amigos, de criação de uma empresa de distribuição de rações no concelho de Montemor. Posteriormente, com a procura por parte dos clientes de outros factores de produção, expandimos o negócio para adubos sementes e produtos fitofarmacêuticos. Hoje a TOPAVI-PEC tem como sócios para alem de mim, o meu cunhado José Manuel Sousa e o meu sobrinho João.

Em que áreas de negócio a empresa se posiciona e qual a respectiva importância em termos económicos?

A empresa tem como principais negócios as rações, onde somos distribuidores da SAPROGAL, adubos, sementes e, como não podia deixar de ser produtos fitofarmacêuticos. A TOPAVI-PEC tem uma facturação anual de mais ou menos 5 milhões de euros, divididos equitativamente por quatro grandes áreas de actividade: adubos; rações; sementes e produtos fitofarmacêuticos.


Qual é a organização da TOPAVI-PEC?

A empresa tem uma estrutura, quanto a mim, bastante leve, pois somos simplesmente seis pessoas sendo uma comissionista. A nossa organização está dividida da seguinte maneira: eu e o meu cunhado José Manuel dividimos a gestão da empresa acumulando também a área de vendas. O meu sobrinho João Sousa está inteiramente ligado ao departamento comercial, sobretudo na zona de Évora/Reguengos. O nosso comissionista Francisco Rato trabalha a zona de Estremoz. No escritório com toda a área administrativa de facturação, stocks, contabilidade está o Paulo Caldeira. Na logística (entregas) temos o Sr. Armando e o Luís Parreira. Não fazendo parte da estrutura interna, mas ligado à empresa temos o nosso contabilista. Na parte de infra-estruturas físicas temos dois carros pesados e dois ligeiros, assim como um armazém recentemente inaugurado com uma área de 900 metros quadrados.


Recentemente a TOPAVI-PEC inaugurou umas novas e modernas instalações na zona industrial de Montemor, já em conformidade com as exigências legais no que respeita à redução do risco na Distribuição e Venda de produtos Fitofarmacêuticos (dec. Lei 173/2005). Qual o objectivo da empresa com esta nova infra-estrutura?

Com a nova legislação, associada a um crescimento da empresa, decidimos meter mãos à obra e avançar com um investimento indispensável para a continuação do nosso negócio. São hoje uma realidade as novas instalações da TOPAVIPEC, num lote industrial de 5.000 m2 que adquirimos a Câmara Municipal na zona industrial de Montemor-o-Novo, construiu-se um armazém com 900m2 divididos da seguinte forma: armazém de produtos fitofarmacêuticos 150m2; armazém de rações, sementes e adubos 600m2; área social 150m2. Com as novas instalações queremos aumentar o negócio, fidelizando os nossos clientes e, cada vez mais, sermos uma empresa de referência no Alentejo.

Que novos projectos têm para o futuro?

Bem, a nível de futuro o principal objectivo é consolidarmos o nosso negócio e, como já referi, sermos uma empresa de referência no Alentejo. Queremos como é obvio melhorar alguns aspectos, nomeadamente criar um “site" da empresa na Internet, visto hoje em dia a Internet ser uma referência indispensável, como suporte de comunicação, para todos os agentes ligados ao sector.


O sector agrícola no Alentejo

O Alentejo tem cerca de 50 % da Superfície Agrícola Útil de Portugal, neste contexto falar do futuro da Agricultura em Portugal é falar do futuro da Agricultura no Alentejo. Achas que a agricultura no Alentejo tem futuro?

Claro que sim, desde que hajam políticas, quer agrícolas, quer macroeconómicas para o sector, que sejam estáveis e adequadas aos nossos sistemas de agricultura. Ou seja que tenham em conta os nossos solos, o nosso clima, as nossas culturas e o conhecimento e experiência da nossa gente, assim a agricultura no Alentejo terá futuro.

Qual o futuro de sectores/culturas tradicionais na região, como os cereais, o olival, ou a vinha?

Os cereais de sequeiro sem apoio, do tipo agro-ambiental, não são sustentáveis. Um dos sectores que poderia ser viável, é a pecuária extensiva, desde que tenha alguns apoios e não continue a ser esquecido. Quanto às culturas da vinha e do olival, desde que se façam em solos propícios e com boas condições agronómicas, penso que continuarão a ser viáveis no Alentejo.

Nos últimos anos temos assistido a compra de imensas explorações por empresários/agricultores de diferentes nacionalidades, sobretudo espanhóis no Alentejo, só na área do Olival contabilizam-se cerca de 20 mil hectares nas mãos de empresários do país vizinho. A que se deve esta dinâmica e quais as principais mais valias que estes trazem para a região?

Penso que a venda de explorações de agricultores alentejanos a espanhóis se tem verificado sobretudo a grupos económicos especializados na cultura do oli