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Cigarrinha dourada

13/07/2009, Profº Raúl Rodrigues (ESA-Ponte de Lima)
Cigarrinha dourada

A cigarrinha dourada é um cicadelídeo de origem norte-americana (região dos Grandes Lagos), que tem na vinha o seu único hospedeiro conhecido.

Trata-se do insecto vector do fitoplasma causador de uma doença grave da vinha, vulgarmente conhecida por Flavescência-dourada, e que foi detectada pela primeira vez em França no ano de 1955, alastrando de seguida a vastas áreas do centro e sul do país e, mais tarde, a outras regiões vitícolas europeias.

Em 1963 foi detectada em Itália, em 1996 em Espanha, em 2003 na Eslovénia, em 2004 na Suiça, e em 2007 na Bósnia-Herzegovina e no Norte de Portugal. O agente causal da flavescência-dourada, é um organismo nocivo de quarentena (listado na legislação fitossanitária - DL 154/2005 e
suas actualizações, que transpõe para a legislação nacional a Directiva do Concelho 2000/29/CE, e como tal, objecto de tomada de medidas de protecção fitossanitária oficiais, quando detectado).

A cigarrinha-dourada da vinha foi referenciada pela primeira vez no território nacional, em 2001 em vinhas das Regiões Demarcadas dos Vinhos Verdes e do Douro e a presence da flavescência-dourada foi confirmada em 2007. A confirmação da doença em território nacional, justificou a adopção de medidas legislativas adicionais, destinadas a conter a progressão epidémica do seu vector (Portaria n.º 976/2008), regulamentando entre outras, a obrigatoriedade de tratamento contra o referido insecto. Tudo indica que a introdução da flavescência-dourada tenha sido Introduzida acidentalmente, através da importação de material vegetal infectado.

Caracterização da espécie
Posição sistemática


Tal como as cigarrinhas-verdes, a cigarrinhadourada pertence à ordem Rhynchota, família Cicadellidae, sub-família Tyhplocybinae. Como já foi referido, as formas imaturas deste insecto são semelhantes aos adultos, bem como o tipo de alimentação, variando apenas no tamanho do corpo, na medida relativa de alguma das suas partes, por vezes na coloração, diferenciando-se sobretudo pela ausência de asas. Tal como para as cigarrinhas-verdes, as formas juvenis são também designadas por ninfas e os adultos por imagos.

Descrição

Ovos: têm forma alongada e achatada e o comprimento é de aproximadamente 1,3 mm. Logo após a postura, apresentam coloração esbranquiçada e, à medida que vão evoluindo, adquirem a tonalidade alaranjada. Os ovos são postos sob o ritidoma das cepas, pelo que são de difícil observação.

Larvas: existem cinco instares (dois larvares e três ninfais) e em todos eles não possuem asas, nem tão pouco asas vestigiais como no caso das cigarrinhas-verdes. Possuem coloração hialina ou parcialmente pigmentada,
são facilmente reconhecidas pela presence de dois pontos negros e simétricos na extremidade do abdómen).

O tamanho das larvas aumenta à medida que estas vão evoluindo, variando entre 2,0 mm logo após a eclosão e 5,0 mm na fase pré-imaginal. Em todos os instares, as larvas possuem uma característica que facilita a sua identificação, que é o facto de saltitarem frequentemente quando perturbadas.

Adultos: Possuem forma afunilada e alongada e têm coloração acastanhada. A parte anterior do corpo é de tonalidade mais clara, apresentando duas ou três bandas transversais castanhas, características da espécie.
Apresentam ligeiro dimorfismo sexual, que se traduz num maior tamanho das fêmeas (5,5-6,0 mm) em relação aos machos (4,8-5,2 mm). É um insecto voador e com grande mobilidade, podendo fazer Deslocações até 30 km.

Bioecologia

A cigarrinha-dourada é uma espécie estritamente ampelófaga e desenvolve na videira a totalidade do seu ciclo biológico. Trata-se de uma espécie univoltina, pelo que em cada ciclo vegetativo da videira, tem apenas uma geração anual. O insecto passa o Inverno sob a forma de ovo, sob o ritidoma das videiras, em madeira com mais de dois anos. A eclosão dos ovos ocorre de forma escalonada, após terem passado por um período de frio invernal. Esta tem início durante o mês de Maio e prolonga-se por um período de cerca de um mês e meio a três meses, de acordo com o frio invernal e as temperaturas primaveris da região.

Após a eclosão, surgem as jovens larvas que estão desprovidas de asas. Durante a sua evolução passam por cinco instares (dois larvares e três ninfais) antes atingirem o estado adulto. As larvas passam de um instar a outro, através de mudas, deixando sobre as folhas do hospedeiro, o velho exoesqueleto ou exúvia. Vivem e alimentam-se na página inferior das folhas, protegidas da radiação solar directa. A duração total desta fase é de aproximadamente cinco a seis semanas. Os adultos são insecto alados e dotados de elevada mobilidade.

Após o seu aparecimento a partir de finais de Junho, a densidade deste insecto começa a aumentar, atingindo o máximo populacional durante a primeira quinzena de Agosto e decaindo vertiginosamente em Setembro. As cigarrinha-douradas e sobretudo as fêmeas grávidas, permanecem nas plantas até ao início de Outubro.

A distribuição do insecto nas vinhas, é do tipo agregativo o que implica a existência de focus que variam de intensidade dentro de uma mesma parcela. Os focos existentes alastram pela parcela e os adultos, bastante móveis, acabam por contaminar parcelas vizinhas.


A flavescência dourada

A transmissão da flavescência-dourada de uma videira a outra, é feita pela cigarrinha-douradaScaphoideus titanus. O insecto adquire o fitoplasma a partir da seiva elaborada que circula no floema de uma videira doente, no momento em que realiza as picadas para se alimentar.

O fitoplasma passa então para o intestino do insecto (onde se reproduz) e posteriormente à hemolinfa, alcançando as glândulas salivares,cerca de 30 a 35 dias após a ingestão. É somente após este período de incubação que a cigarrinha-dourada pode transmitir o fitoplasma a outras plantas.

A flavescência-dourada não se transmite à descendência, pelo que os ovos postos por uma fêmea infectada, vão originar indivíduos sãos. Para ficarem infectadas, as jovens larvas ou mesmo os adultos, têm que se alimentar numa planta doente.O adulto, dotado de grande mobilidade, é responsável pelo carácter epidémico da FD e pela sua difusão para outras vinhas, originando focos secundários a distâncias consideráveis.

Normalmente, a incubação da doença na planta, decorre no Outono e Inverno e os sintomas surgem no Verão seguinte. Contudo, estes podem durar dois, três ou mais anos a manifestarem-se, consoante as circunstâncias.
A melhor altura para a observação dos sintomas típicos da doença, é no final de Julho e durante todo o mês de Agosto.

Os sintomas característicos da presença da flavescência-dourada são:

• Atraso na rebentação;

• Alteração da consistência das folhas: endurecem

• Mortalidade total ou parcial das cepas;

• Ausência de produção: os cachos secam e não chegam a amadurecer, ou nem sequer chegam a formar-se;

• Folhas enroladas sobre a página inferior em forma de telhas ou escamas de peixe;

• Mudança prematura da coloração das folhas para vermelho ou amarelo dourado, segundo se trate Respectivamente de castas tintas ou brancas;

• Ausência de atempamento das varas:
ficam bastante flexíveis, dando à videira um aspecto de chorão;

• Quebras quantitativas e qualitativas na produção;

• Morte total ou parcial da videira.

A maioria dos sintomas descritos, podem ser facilmente confundidos com os causados por outro fitoplasma, responsável pela doença do “Bois noir", que tem afectado recentemente as vinhas francesas, onde coexiste com a flavescência-dourada. Contudo, o diagnóstico visual deve ser complementado com testes laboratoriais, para se identificar correctamente a origem do problema.

A doença também pode ser adquirida pelos porta-enxertos de videira, mas estes nem sempre manifestam os sin

Cigarrinha dourada
Flavescência dourada na casta Chardonnay (esq.); Flavescência dourada na casta tinta Pinot Noir (dir.)
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Estratégias de protecção (Adaptado de Constante et al., 2006)