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Flavescência dourada

15/07/2011, Profª Ana Maria Nazaré Pereira (UTAD)
Flavescência dourada

Vários fitoplasmas (género Candidatus Phytoplasma, espécie Candidatus Phytoplasma vitis ) são caracterizados como parasitas da videira, destaca-se a Flavescência Dourada e a doença Bois Noir (BN), doenças de quarentena.

Os Fitoplasmas são seres unicelulares sem parede celular, só visíveis ao microscópio electrónico de transmissão, que parasitam as células do floema da videira.
SINTOMATOLOGIA

Na videira a sintomatologia induzida por fitoplasmas está fundamentalmente associada a atraso na rebentação seguida de manchas amarelo-dourado (“amarelos") nas castas brancas ou avermelhamento das folhas nas castas tintas. Na Primavera o abrolhamento das plantas infectadas é tardio e as folhas atrofiadas; as folhas apresentam descoloração a partir do Verão, enrolamento para a página inferior, endurecem e pode verificar-se sobreposição das folhas umas sobre as outras como as escamas de peixe; pode haver posterior necrose das nervuras.

As videiras com fitoplasmoses podem apresentar também as varas não atempadas, inteiramente flexíveis desde a base à extremidade e com manchas negras. Se os sintomas aparecem antes ou durante a floração toda a inflorescência seca. Se os sintomas aparecem no final do Verão o pedúnculo seca e as uvas enrugam e ficam com polpa fibrosa e acidez muito elevada. Os sintomas normalmente só aparecem um a três anos após a introdução de material infectado na vinha.

É importante não confundir a sintomatologia devido a fitoplasmas na videira com os estragos directos provocados pela picada das cigarrinhas verdes (Empoasca vitis, E. solani, E. decepiens e Jacobiasca lybica). A fitotoxicidade provocada por esta praga picadora-sugadora do floema origina, fundamentalmente no bordo das folhas, manchas avermelhadas (ou amarelas, nas castas brancas) bem delimitadas pelas nervuras secundárias, ficando para o final do ciclo vegetativo as folhas com aspecto “queimado". É também importante não confundir a sintomatologia provocada pela flavescência dourada com a sintomatologia provocada pelo vírus do enrolamento foliar da videira.

PREJUÍZOS

Os fitoplasmas associados à videira, ao multiplicarem-se no floema, bloqueiam os tubos crivosos verificando-se forte diminuição do rendimento e degenerescência progressiva da planta levando à sua morte em poucos anos nas castas mais sensíveis.

PROCESSOS DE TRANSMISSÃO

Os fitoplasmas são transmitidos de planta a planta especificamente por insectos. Actualmente são conhecidos como vectores da Flavescência dourada, a cigarrinha branca Scaphoideus titanus Ball (= S. littoralis Ball) e o insecto Metcalfa pruinosa (Say). O fitoplasma Bois noir é especificamente transmitido pelo insecto Hyalesthes obsoletus. É importante salientar que várias espécies de cigarrinha verde, nomeadamente Empoasca vitis, E. solani, E. decepiens e Jacobiasca lybica, importantes pragas da videira em Portugal, não são vectores de fitoplasmoses da videira.

Como todas as doenças infecciosas, os fitoplasmas são também transmitidos por enxertia. Assim, a infecção primária numa vinha pode ter origem em material
vegetal infectado (porta-enxerto ou garfos) ou ser introduzida por insectos vectores. Por sua vez a disseminação da doença cepa a cepa na vinha é feita
fundamentalmente pelos insectos vectores. A propagação da doença de região para região pode dar-se pelo transporte de material infectado.

DIAGNÓSTICOS

A observação na Primavera-Verão de sintomas típicos de FD e presença de S. titanus em armadilhas para captura de adultos na vinha e/ou presença de ninfas na página inferior das folhas pode dar uma indicação de possível infecção por
fitoplasma na vinha mas não é um processo de diagnóstico. A sua identificação deverá ser feita por testes laboratoriais específicos, nomeadamente serológicos (ELISA) ou moleculares (PCR), podendo esta identificação ser realizada no material vegetal (pecíolos das folhas) e/ou nos insectos vectores.

ESTRATÉGIAS DE PROTECÇÃO

Os meios de luta para as fitoplasmoses na videira devem passar obrigatoriamente pela utilização de material de propagação vegetativa certificado, isento do agente patogénico.

Não se deve utilizar material vegetativo infestado com ovos de cicadelideos e deve-se queimar a lenha de poda para destruir possíveis ovos hibernantes.

Deve-se além disso fazer a monitorização da população de cicadelideos na vinha e, se necessário, aplicar tratamento insecticida contra S. titanus com produtos homologados e com aplicações de acordo com os Serviços de Avisos.

A monitorização dos viveiros, com observação da presença de sintomas da doença (e posterior confirmação laboratorial) e de vectores (sobretudo na página inferior das folhas) deverá ser uma prática de rotina. Também algumas infestantes podem funcionar como reservatório de fitoplasmas e/ou de insectos vectores pelo que devem também ser monitorizadas, principalmente em viveiros.

É também possível a termoterapia, mergulhando os porta-enxertos e os garfos em água a 50 ºC durante 30-45 minutos, como medida de controlo da FD e do BN.