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Podridão cinzenta da videira

27/07/2009
Podridão cinzenta da videira

A Podridão cinzenta da videira, conhecida desde a antiguidade, é uma doença descrita por RAVAZ em 1895 e que está presente em todas os vinhedos do mundo.

O fungo responsável pela doença pode ser, por um lado, o inimigo temido pela qualidade da colheita, afectando gravemente a composição qualitativa das uvas e dos vinhos (alterações na cor e nos aromas, aparecimento de gostos anormais, iodados, terrosos, etc.) ou por outro, o amigo desejado para o desenvolvimento da forma Podridão nobre, produzindo vinhos brancos licorosos de grande prestígio mundial.

Descrição e classificação da doença

A forma perfeita do fungo, Botryotinia fuckelianaz (DE BARY) Whetzel, pertence à divisão Ascomycota, ordem de Helotiales e à família Sclerotiniceae. Pode ser reconhecido como uma apoteca pedicelada de cor acastanhada desenvolvida sobre um escleroto. Esta forma é muito raramente observada na natureza. A forma imperfeita do fungo é a Botrytis cinerea Pers. O micélio de cor acastanhado desenvolve os conidióforos, que se ramificam e que terminam em "ramos" de conídios. As frutificações dos conídioforos são ligeiramente coloridas a cinzento "cinza", dando origem ao nome da doença de Podridão Cinzenta.

Trabalhos recentes (GIRAUD et al., 1998) revelaram a existência de duas Subespécies de B.cinerea que os autores têm chamado B.vacuma e B. transposa. A estirpe de B.vacuma desenvolve-se como saprófita maioritariamente em Junho, decrescendo a sua presença até Outubro. A estirpe de B. transposa considerada parasitária torna-se então maioritária. Desta caracterização resulta que a subespécie B. transposa está mais particularmente ligada à vinha.

Sintomatologia

Os sintomas da doença podem ser observados nos viveiros, durante o armazenamento dos bacelos enxertados. Mais tarde, no viveiro, verificam-se danos nos gomos dos enxertos prontos e no calo de enxertia. Estes ataques são muitas vezes causados por condições ambientais muito húmidas.
Na vinha, o fungo pode atacar todos os órgãos herbáceas, como gomos, folhas, pâmpanos, inflorescências e cachos. As folhas apresentam manchas vermelho-acastanhadas de dimensão variável, que aparecem na periferia do limbo (aspecto de queimadura).

Nas Primaveras húmidas e frescas, estas manchas nas castas mais senvíveis cobrem-se de frutificações acinzentadas. Nos pâmpanos, pode-se observar manchas castanhas, mais ou menos alongadas e necroses acastanhadas, a partir das quais podem secar e quebrar. Antes e durante a floração, nomeadamente logo que a doença se manifesta nas folhas, o fungo Botrytis cinerea pode destruir as inflorescências ou nos pedúnculos das flores, provocando uma "Podridão peduncular". As peças florais ricas em elementos nutritivos podem servir de base para focos primários de infecção. Durante a alimpa as caliptras ao caírem causam pequenas feridas, que são portas de entrada para o fungo. Mais tarde, os bagos atingem o limiar de sensibilidade máxima á doença, no início do pintor, logo que o teor em açúcar nos bagos aumenta. Neste período o parasita introduz-se pelas micro-fissuras da película dos bagos que se tornam menos resistentes. Estas lesões cobrem-se de frutificações (micélio) cinzento acastanhado dispostas em estrela. Todos os cachos podem ser rapidamente atacados pela doença.

Na final do Verão/Outono, nas parcelas da videira em que se realiza a vindima mecânica e que estão atacadas com o fungo Botrytis cinerea, pode ser visto na base dos sarmentos que ficam com cor branca e cobertas de formações negras: os esclerotos.

Biologia

Botrytis cinerea é um fungo muito polífago que está presente em todas as plantas, quer cultivadas, quer silvestres. Situa-se na fronteira entre o saprofitismo e o parasitismo. Hiberna sob a forma de esclerotos e micélio nos sarmentos (vivos ou mortos). Na Primavera, logo que as condições atmosféricas sejam propícias, o micélio e os esclerotos germinam originando as frutificações cinzentas, os conidióforos. Estes produzem os conídios, que são libertados pela acção do choque das gotas de água e dispersos pelo vento e chuva. As primeiras infecções dos cachos ocorrem no final da floração, nas lesões provocadas pela queda das peças florais (caliptras). O parasita permanece latente nos bagos até que estes sejam mais receptivos à doença, na altura do pintor. Quando os bagos se tornam receptivos, a contaminação pode ocorrer de duas formas, pelos conídios e pelos micélios.

Pelos conídios: A sua germinação ocorre na água ou se a humidade humidade relativa for superior a 90%, com valores de temperatura compreendidos entre 1ºC e 30 ºC, com uma temperatura óptima de germinação de 18ºC. As contaminações ocorrem mais rapidamente entre os 15 e os 20 ° C, na presença de água ou de uma humidade relativa do ar acima de 90%, durante, pelo menos, 15 horas. Pelo micélio: a infecção dos cachos é realizada pelo micélio, já instalado num substrato nutritivo composto de detritos vegetais introduzido entre os bagos. O micélio degradará progressivamente a estrutura pelicular dos bagos pela acção das suas enzimas. A infecção dos bagos sem lesões efectua-se através do desenvolvimento anaeróbico do micélio nas células do complexo pelicular do bago. O bago atacado adquire então uma cor castanha clara, onde se desenvolvem os conidióforos com conídios sobre a película.

Em seguida, o desenvolvimento da podridão dos cachos
efectua-se pelo micélio, podendo os conídios criar focos de infecção no interior e no exterior dos cachos. Nos bagos com lesões/feridas provocadas por danos mecânicos, naturais (granizo), outras doenças (míldio, oídio) ou por pragas (traças dos cachos), a B.cinerea evolui em profundidade e coabita com outros fungos que podem alterar gravemente a qualidade dos vinhos. Os estudos de sensibilidade varietal mostraram uma forte exposição à podridão cinzenta em particular em castas com uma estrutura de cachos muito fechados e compactos. Numerosos estudos realizados por investigadores centram-se na relação planta-parasita para compreender melhor a sensibilidade natural das castas à doença. Os resultados/benefícios deste tipo de investigação poderão ajudar a uma melhor profilaxia da doença e um melhor posicionamento dos tratamentos fungicidas

Meios de luta

A Podridão cinzenta, sendo uma doença muito dependente do
clima e da sensibilidade das castas, as medidas profiláticas destinadas a limitar a importância dos danos sobre a produção são ainda amplamente estudadas. Sobre a selecção e gestão do material vegetativo e das formas de condução da vinha, as recomendações poderão ser:

> Escolher os porta-enxertos menos vigorosos, limitando o uso de SO4;

> Evitar as castas ou clones muito sensíveis nas zonas ou parcelas consideradas favoráveis à doença;

> Limitar o uso excessivo de adubos azotados, que causam um
grande vigor e aumentam a sensibilidade da videira;

> A taxa da doença é tanto mais baixa, se o enraizamento profundo permite modular o stress hídrico;

> Promover os sistemas de condução ou sistemas de poda que
permitem um bom arejamento da folhagem e dos cachos e evitando lesões nos bagos;

> Proceder à monda de cachos (no estado fenológico de bagos
separados), de forma a reduzir o volume e a produção e limitar a compactação dos cachos.

> Expor os cachos (monda de folhas) de forma a favorecer a sua precocidade;

> Assegurar boa protecção dos cachos conta o oídio e as traças.

Estas medidas profiláticas quando bem aplicadas devem permitir desfavorecer o desenvolvimento de B.cinerea e contribuir para melhorar o controlo na utilização de fungicidas que, em certas situações, é essencial e determinante, especialmente porque a modulação da doença, apesar de estudada há muitos anos, não é ainda fiável. Esta falta de um sistema de previsão de risco credível,leva a que se racionalizem as aplicações posicionadas a pensar na utilização do controle químico segundo um método standard desenvolvido por R. Agulhon (1966), e que consiste em efectuar uma aplicação fungicida nos quatro estados fenológicos considerados sensíveis, tais como:

> Estado A – f