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Oídio da videira

12/10/2010, Profº Yvon Bugaret (ex-IRNA)
Oídio da videira

O oídio é a doença da videira mais antiga registada na Europa tendo sido importada da América do Norte (1850). A doença está presente em todas as vinhas do Mundo, onde se manifesta com maior ou menor gravidade

Descrição e classificação da doença

A forma perfeita, Uncinula necator (Schw.) Burr. (Syn. Erysiphe necator Schw.) pertence à divisão Ascomycota, à ordem Erysiphales e à família Erysiphaceae. Caracteriza-se por formar cleitostecas, orgãos esféricos fechados, de cor negra quando maduras, fixadas por felcros enleados na pilosidade das folhas ou sobre a epiderme dos troncos e bagos. A forma imperfeita, Oidium tuckeri Berk., desenvolve um micélio hialino e ramificado, à superfície dos órgãos a contaminar. O micélio emite hastórios, órgãos de sucção que asseguram por uma lado a sua fixação sobre os tecidos vegetais e por outro a sua nutrição a partir do hospedeiro. É um parasita obrigatório. A reprodução assexuada efectua-se a partir dos conidióforos formados perpendicularmente em cadeia sobre as hifas formadas.

Sintomatologia

Desde o abrolhamento, em certas castas (Carignan) os jovens pâmpanos saídos dos gomos contaminados apresentam um crescimento retardado com uma forte crispação das folhas. Este jovem lançamento cobre-se de um enfeltrada branco, forma essa que se designa por "fácies" drapeau ou bandeira. Durante o crescimento activo da videira as folhas atacadas tomam um aspecto aveludado e branco. Os pâmpanos e os sarmentos podem ser atacados ao longo de todo o ciclo e apresentar manchas castanho-escuro ou negras. Os cachos podem ser atacados desde muito cedo, ainda em inflorescência, mas é a partir do vingamento que os prejuízos são mais graves. Os jovens bagos cobrem-se de frutificações, a sua cutícula endurece e os bagos
acabam por fendilhar (pela acção do fungo sobre a cutícula impedindo o crescimento normal dos bagos) perto da maturação. Estes bagos fendilhados podem ser em seguida colonizados por Botrytis cinerea, agente causal da podridão cinzenta e também por fungos saprófitas secundários indutores de mais gastos à colheita.

No final da campanha, nas vinhas atacadas por oídio, podem observar-se sobre os órgãos atacados pequenos pontos negros, as cleistotecas, órgãos da forma sexuada do fungo. As cleistotecas representam o "reservatório" da doença para o ano seguinte.

Biologia e epidemiologia

O fungo Uncinula necator tem dois modos de conservação: nos gomos dormentes e pela forma de cleistotecas. Nos gomos dormentes a sua contaminação efectua-se ao longo do período vegetativo. É este tipo de infecção que desenvolve desde o abrolhamento, que se denomina “fácies” drapeau (ou bandeira).

As cleistotecas podem ser observadas sobre todos os órgãos atacados. A sua formação e o seu desenvolvimento tem lugar no final do ciclo vegetativo. A reduzida fixação das cleistotecas quando maduras fragiliza-as no período das chuvas, fazendo-as cair para as infractuosidades do tronco, ritidoma e para o solo. Foi demonstrado que apenas as cleistotecas que hibernaram no ritidoma são viáveis. A disseminação da doença faz-se cedo, na Primavera. As cleistotecas maduras rebentam sob a acção das chuvas e as ascóporos são ejectados e transportados pelo vento. Ocorrem, então, as infecções primárias. As frutificações do micélio de forma assexuada, os conídios, são disseminados pelo vento e pela chuva. Foi recentemente demonstrado que certas práticas culturais (aplicação de produtos fitofarmacêuticos distintos dos fungicidas antioídio e a desponta) podem ser factores de disseminação de conídios.
O processo de contaminação é melhor conhecido com a forma assexuada do fungo de que a partir da sua forma sexuada. É durante a disseminação dos focos primários, resultantes das cleistotecas, que o processo de contaminação é melhor conhecido.

O conídio, em contacto com o tecido vegetal receptivo, emite um tubo germinativo, que evolui num haustório, órgão de sucção que penetra a cutícula para que o fungo obtenha os seus nutrientes. Forma em seguida hifas portadoras de conidíforos sobre as quais se formam os conídios que disseminam a doença assegurando novas contaminações (infecções secundárias). A temperatura é o principal factor limitador do desenvolvimento do oídio. Os conídios germinam entre os 4 e os 33ºC. O óptimo situa-se à volta dos 25º C onde podem germinar em cerca de 5 horas. As temperaturas
ideais para a contaminação e infecção situamse entre os 20º e os 27º C. Contudo, as temperaturas extremas do fungo podem situar-se entre os 6º e os 32ºC. A água, sob a forma líquida prejudica a germinação dos conídios e provoca o seu colapso.

Somente a humidade relativa, entre valores de 40 a 90% são suficientes para a germinação dos conídeos e para a realização das contaminações. A luz é outro elemento muito importante para o desenvolvimento do oídio. Foi demonstrado que há uma influência negativa da radiação sobre a germinação dos conídios, facto que se confirma pelo melhor desenvolvimento da doença nas zonas mais ensombradas da canópia da videira. É possível também observar um forte desenvolvimento da doença durante os períodos quentes, húmidos e com o céu nublado, ou durante noites quentes mas suficientemente húmidas. A videira é receptiva ao oídio ao longo do seu ciclo de desenvolvimento, em particular nos pâmpanos, folhas, sarmentos, inflorescências e cachos. Na prática, a receptividade optima para os ataques do oídio situam-se entre o estado fenológicos de pré-floração ao fim do vingamento dos bagos.

Meios de luta

Esta doença tem um carácter prejudicial regular, em particular nas vinhas das regiões meridionais e nos países vitícolas do Sul da Europa e do Norte de África. A luta química contra o oídio beneficia de meios de luta variados de entre os quais o mais antigo resulta do emprego de fungicidas à base de enxofre, utilizados desde meados do séc. XIX. As medidas profiláticas bem aplicadas podem desfavorecer o desenvolvimento da doença. Estas podem ser classificados pela seguinte ordem:

> Adoptar um sistema de condução que forneça o arejamento e a insolação dos cachos;

> Limitar o uso de fertilizante que influam no sentido de um vigor vegetativo excessivo;

> Evitar o ensombramento dos cachos, favorável à extensão do fungo; uma desfolha de zona dos cachos ao vingamento tem efeitos benéficos.;

> Na escolha do material vegetal para novas plantações, utilizar bacelos enxertados sãos;

> Ter em conta que o ensombramento reduz o vigor das videiras mas que o seu desenvolvimento excessivo tenda a criar um micro-clima húmido e favorável à doença;

> Certas intervenções em verde (desponta) favorecem a disseminação dos conídios: efectuar estas práticas de preferências após um tratamento fungicida;

> Reduzir as zonas alagadas nas parcelas.

Como para a maioria das doenças as medidas profiláticas são fundamentais para uma luta química. A modelização desta doença parece ser mais complicada do que para a do míldio. Numerosos trabalhos de pesquisa realizados sobre a biologia epidemologia do oídio deverão permitir, em breve, o recurso a modelos de previsão de risco para uma gestão racional da luta contra o oídio. Até lá, os viticultores podem racionalizar as suas intervenções, baseando-se numa estratégia precisa e assente em numerosos trabalhos de luta contra esta doença. Esta estratégia estabelecida para castas que não apresentam “fáceis” de drapeau – bandeira – baseia-se numa regra de decisão de intervenção com o objectivo de reduzir o número de tratamentos.

Esta regra de decisão consiste em concentrar a luta química entre o estado fenológico de botões florais aglomerados a separados e o fecho dos cachos.

Esta regra de decisão é actualmente a única forma de protecção racional dado a inexistência de modelos de previsão de risco validados. Numerosas experimentações mostraram que a protecção precoce, frequentemente aplicado entre os estados de 3-5 folhas separadas e botões florais próximos de se separarem, não se traduzem num ganho de eficácia. O emprego de fungicidas eficazes, alternando o mais possível as famílias químicas permitem limitar o risco de intervenção de 4 a 5 por ano

Oídio da videira