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BLACK DEAD ARM

07/01/2010, Engª Cecília Rego e Engª Helena Oliveira
<I>BLACK DEAD ARM</I>
Figura 1 (a, b) Sintomas foliares; casta Castelão

A doença designada por black dead arm (BDA) foi primeiramente descrita na década de 70 na Hungria e posteriormente em Itália, sendo atribuída a Botryosphaeria stevensii e “B.” obtusa, respectivamente. No início do século XXI, ganhou especial notoriedade em França, afectando castas como Cabernet Sauvignon, Cabernet Franc, Merlot, Pinot Meunier e Syrah. Inicialmente foi confundida com esca, embora posteriormente se tenha provado tratar-se de BDA, estando-lhe associadas, neste caso, as espécies B. obtusa e B. dothidea.

Recentes declínios observados em vinhas nacionais assemelham-se fortemente aos descritos em França e parecem diferir, nalguns aspectos, da esca de videiras adultas ou de videiras jovens (esca jovem, doença de Petri).

AGENTES CAUSAIS

Fungos Botryosphaeriaceae: espécies de “Botryosphaeria” e Botryosphaeria-like

SINTOMAS

Os sintomas foliares de BDA em videira confundem-se maioritariamente com os de esca. Tal como para a esca, está descrita uma forma apopléctica de BDA que inclui a morte de braços, a queda prematura de folhas, o dessecamento de inflorescências e/ou cachos. Por vezes, ocorrem novos crescimentos nas videiras doentes, a partir de gomos dormentes existentes no tronco. Na forma lenta, e ao nível das folhas, as cepas afectadas por BDA desenvolvem manchas vermelhas nas margens e/ou no limbo no caso das castas tintas, ou amarelo-alaranjadas quando se trata de castas brancas. Estas manchas vão coalescendo, formando vastas zonas deterioradas entre as nervuras e nas margens das folhas (Fig, 1). É de salientar que os sintomas foliares de BDA são visíveis desde finais de Maio, ao contrário dos da esca que surgem mais tardiamente (Junho - Julho) (Fig.2 a,b).

Ainda no campo, com o evoluir da doença e da fenologia da videira, ocorre a seca de cachos (Figura 2.c). Ainda que os sintomas foliares de BDA se confundam facilmente com os de esca, distinguem-se destes, em castas tintas, pela pigmentação mais avermelhada das lesões e pela precocidade com que se manifestam.

Todavia, a principal característica diferenciadora entre BDA e esca reside no tipo de necroses originadas no lenho da videira. Ao nível da madeira, o sintoma mais típico de BDA refere-se à presença de uma banda ou estria acastanhada, com 2-3 cm de largura, visível quando se destaca o ritidoma e que se desenvolve ao longo do tronco e braços afectados. Uma necrose desta natureza, até à data, nunca foi detectada em videiras com síndrome de esca. Em relação ao exemplo ilustrado na Figura 3, a severidade de sintomas observados e a idade das videiras atacadas (dois anos) indicia que os materiais usados na plantação da vinha eram oriundos de plantas-mãe de porta-enxertos e/ou garfos doentes. Nestes materiais observam-se frequentemente necroses no lenho com distintas conformações, que vão desde o formato de meia-lua ao de cunha ou V, semelhantes às causadas por Eutypa, atingindo por vezes a medula (Figura 4). São lesões que resultam, maioritariamente, da penetração de Botryosphaeria spp. através de feridas, em particular as resultantes da poda.

Ainda em videiras afectadas por BDA (Figura 5 a-c), surgem sintomas nos pâmpanos que se confundem com os causados por Phomopsis viticola (escoriose americana) mas que se distinguem pela ausência do aspecto reticulado (tipo tablete de chocolate) e pela morfologia dos esporos formados nos picnídios (frutificação comum a Phomopsis e aos estados sexuados de Botryosphaeria). Em videira, os fungos do género Botryosphaeria incluem várias espécies, saprófitas e patogénicas, associadas a várias doenças, ou conjuntos de sintomas, surgindo em diferentes combinações. Em determinadas circunstâncias confundem-se com os produzidos por E. lata (eutipiose), noutras com os originados por P. viticola (escoriose) e ainda noutras com os causados pelo complexo de fungos associados à esca da videira. Estudos de patogenicidade levados a cabo com isolados das espécies B. parva, B. lutea, B. obtusa e B. stevensii em lançamentos do ano, em videiras envasadas, permitiram verificar a capacidade destes fungos originarem necroses na madeira seis meses após a inoculação, bem como sintomas foliares um ano após a inoculação.

Em Portugal, de videiras adultas (10-18 anos) com sintomas atribuíveis a esca (e/ou BDA), tem sido isolada maioritariamente a espécie B.obtusa, embora B. stevensii e B. parva possam estar igualmente presentes. Em videiras mais jovens, com sintomas típicos de BDA, foi isolada maioritariamente a espécie B. stevensii e ainda B. viticola, sendo esta última espécie considerada essencialemnte saprófita.

Os fungos mencionados, com destaque para B. parva e ainda B. dothidea e B. lutea, são responsáveis pelo declínio de videiras, em particular jovens, originando diferentes tipos de sintomas, que incluem deficiente soldadura na região de enxertia, cloroses foliares, morte de ramos, necroses diversas no lenho, morte de gomos, estrias e pontuações negras no lenho (também características da doença de Petri), varas com ritidoma esbranquiçado coberto de pontuações negras (picnídios).

BIOLOGIA

Existe ainda pouca informação acerca da epidemiologia das doenças causadas por Botryosphaeriaceae em videira. O elevado número de espécies existentes, as distintas doenças que provocam, bem como a ocorrência simultânea de diferentes espécies numa mesma vinha e, por vezes, a sua associação com outros fungos do lenho da videira, têm dificultado muito esse conhecimento. As infecções causadas por fungos do género Botryosphaeria iniciam-se frequentemente nas vinhas-mãe de porta-enxertos e de garfos. Os materiais de propagação podem, por conseguinte, estar infectados antes da enxertia, originando plantas doentes, não só portadoras de Botryosphaeria spp., mas também de outros importantes fungos como Cylindrocarpon spp. e Phaeomoniella chlamydospora. Embora as infecções causadas por Botryosphaeria se possam manter mais ou menos latentes nestes materiais, vêm a manifestar-se com severidade, quando as jovens videiras são sujeitas a factores de stresse e a outras condições favoráveis.

Na vinha, as infecções provocadas por fungos do género Botryosphaeria são essencialmente devidas
à germinação de esporos produzidos nas estruturas de frutificação que se encontram nos diversos órgãos da videira atacados, designadamente no ritidoma esbranquiçado das varas, em cancros, ou em madeira da poda abandonada na vinha. Longos períodos de humectação e de humidade relativa elevada favorecem a produção de esporos e respectiva germinação. Por sua vez, a disseminação desses esporos é favorecida por períodos de chuva, quando as temperaturas rondam os 10ºC. Estes fungos podem germinar entre 15-37ºC, mas a temperatura óptima de infecção situa-se entre 23-26ºC. A abundância de inóculo, na presença de feridas recentes, é condição favorável à ocorrência de infecções.

As infecções são também favorecidas por condições que reduzam drasticamente o vigor das plantas, tais como geada, altas temperaturas nos meses de Verão, nutrição pobre e podas mal conduzidas, ou pelas que induzam excesso de vigor.

MEIOS DE LUTA

As doenças causadas por Botryosphaeria spp. são de difícil controlo, quer pela diversidade de espécies em jogo, quer pelos materiais que infectam (plantas-mãe de porta-enxertos e de garfos, barbados, bacelos-enxertados, videiras de produção), quer ainda pela falta de fungicidas homologados. A actual ausência de meios de luta directos eficientes, na maioria dos países, recomenda a adopção de práticas culturais, com carácter preventivo.

Luta cultural

Na vinha, é necessário eliminar cepas doentes e mortas, bem como a madeira doente de cepas ainda viáveis. Nos casos de BDA/esca, estas operações deverão decorrer antes da vindima, pois torna-se mais fácil a iden

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