Notícias

II Congresso Ibero-americano de Herbologia

19/03/2010, Engº Vítor Dias-Bayer CS
II Congresso Ibero-americano de Herbologia

De 10 a 13 de Novembro 2009 realizou-se o II Congresso Ibero-americano de herbologia (II Congresso IBCM), resultado da realização simultânea do XII Congresso da Sociedade Espanhola de herbologia (SEMh) e do XIX Congresso da Associação Latino-americana de Infestantes (ALAM).

Este encontro realizou-se em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian e na sua organização estiveram envolvidos especialistas portugueses em herbologia de diferentes entidades, nomeadamente: o Instituto Superior de Agronomia de Lisboa, a Escola Superior Agrária de Beja e o Instituto Nacional de Recursos Biológicos de Oeiras. Contou com o patrocínio entre outras entidades da Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e Tecnologia, e da Bayer Cropscience.

Este evento juntou mais de 140 participantes de 15 países e foram apresentados mais de 200 artigos científicos, relacionados com o tema do congresso, "Herbologia e Biodiversidade numa Agricultura Sustentável".

A inauguração deste congresso esteve a cargo do Sr. Dr. Reitor da Universidade Técnica de Lisboa, que salientou o carácter bivalente das infestantes, podendo ser vistas, por um lado, como inimigos das culturas, mas por outro, como suporte da biodiversidade, pois são produtores primários dentro dos sistemas agrícolas, providenciando alimento, refúgios locais de reprodução, contribuindo para a estruturação dos habitats. Salientou ainda a contribuição deste encontro para o conhecimento e convívio entre os especialistas em herbologia de diferentes países e para um estreitar de laços e uma maior colaboração científica entre uma quinzena de países do Continente Sul-Americano e da Península Ibérica. Lançou alguns desafios no sentido de atrair mais jovens para o doutoramento nesta área, inclusivamente para, doutoramentos conjuntos. Finalmente falou na ideia de criar um "Herasmus Mundus" na área da herbologia, à semelhança daquele que já existe na área da vinha.

A conferência inaugural e o enquadramento foram feitos de forma brilhante pelo Dr. Jonh Marshall, chefe de edição da revista "Weed Research", com o tema "Agroecologia – novas direcções para a herbologia".

Este investigador afirmou que: a herbologia clássica tem vindo a desenvolver-se a partir da necessidade de limitar os efeitos adversos das infestantes nos campos de cultivo, debruçando-se essencialmente na biologia destas e no seu controlo. A partir dos anos 40 o maior desenvolvimento consistiu na descoberta de novas moléculas com acção herbicida. Esta abordagem obteve enorme êxito pois possibilitou um elevado incremento nas produções agrícolas, aumentando a eficiência económica ao nível das explorações agrícolas, conduzindo no entanto a alterações de ordem social e ecológica.

Hoje na Europa tem havido uma crescente consciencialização de que os avanços na agricultura têm sido conseguidos a par com alterações significativas na vida rural, ecologia e paisagem. Se por um lado, tem havido um historial de sucesso no controlo de infestantes, por outro, os desafios relacionados com resistências a herbicidas, a exigência dos consumidores, o aumento da procura de alimentos e do seu preço, assim como, desafios globais ao nível do crescimento da população e alterações climáticas estão na ordem do dia.

Claramente, hoje existem mais pressões sobre a agricultura: económicas, ao nível dos mercados globais e dos custos de produção na lavoura, aumento da procura e alterações nos padrões de consumo exigem o aumento das produções de "commodities"; por outro lado, os consumidores exigem menor uso de fitofármacos e maior sustentabilidade na produção de alimentos.

Todos estes factores reflectem-se, por exemplo, na política agrícola comum (PAC), nomeadamente ao nível da regulação de fitofármacos, directivas agrícolas comuns e na necessidade de estabelecer índices de sustentabilidade. Por exemplo, no Reino Unido, um índice de populações de aves do campo está agora a ser utilizado pelo governo como indicador da sustentabilidade da agricultura, o qual será utilizado na implementação da PAC. Assim, a avaliação da biodiversidade será avaliada ao nível da exploração como um todo e não ao nível da cultura em particular.

Após estas considerações, somos levados a pensar nas direcções futuras da investigação na herbologia, particularmente em relação à crescente preocupação com a biodiversidade ao nível da lavoura, em especial na Europa. Assim algumas perguntas se levantam: Haverá oportunidades de produzir as culturas agrícolas de forma a respeitar as necessidades de uma agricultura multifuncional? Que investigações estão em curso que nos possam ajudar? Quais serão, no futuro, as direcções mais prováveis da investigação agrária e da herbologia?

As apresentações que se seguiram durante os três dias de congresso tentaram de alguma forma responder a algumas destas questões, através das seguintes sessões: "Infestantes e Biodiversidade"; “Biologia e Ecologia das Infestantes”; "Gestão de Infestantes" (Diferentes técnicas de controlo de infestantes, Resistência aos herbicidas e Eficácia e selectividade de herbicidas e tecnologia de aplicação) e "Plantas Invasoras".

Após este congresso poderá dizer-se que, a herbologia não será mais uma ciência fechada sobre si mesma, mas sim, uma ciência que envolverá conhecimentos e tecnologias multidisciplinares.