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100 anos de Inovação na Protecção das Culturas em Portugal

24/09/2010, Engº António Villalobos - Dir. Técnico
100 anos de Inovação na Protecção das Culturas em Portugal

A necessidade do homem em proteger as culturas é tão ancestral como a própria agricultura. Claro que desde a fase em que a protecção das culturas era feita com recurso ao exorcismo até à descoberta de moléculas altamente eficazes, selectivas, e aplicadas em doses tão diminutas cuja ordem de grandeza é expressa em grama por hectare (g/ha) um longo caminho foi percorrido.

Um dos primeiros produtos a ser utilizado na protecção das plantas foi o Enxofre, o qual era já usado na China muitos séculos antes da era cristã. De qualquer forma, uma maior consciência sobre a importância de proteger as culturas ocorreu no século XIX, coincidindo com a Revolução Industrial e o consequente aumento da população humana.

Na Irlanda, na segunda metade da década de 1840, campos inteiros cultivados com batateira foram devastados pelo míldio da batateira, o tubérculo da batata constituía a base da alimentação do povo irlandês, levando à morte de milhares e milhares de pessoas e forçando à emigração maciça de grande parte da sua população para a América do Norte.

Na última metade do mesmo século, a filoxera, o oídio da videira e o míldio da videira, praga e doenças vindas do outro lado do Atlântico, dizimaram os vinhedos na Europa provocando uma crise global na produção e comércio dos vinhos que duraria quase meio século.

Em Portugal, e mais concretamente na Região do Douro, são ainda visíveis os vestígios dessa destruição testemunhada através dos chamados "murtórios". A calda bordalesa (mistura de Sulfato de Cobre com cal) e que deve o seu nome ao facto de ter sido utilizada pela primeira vez nos vinhedos da região de Bordéus, constituiu um dos primeiros produtos a ser utilizado na protecção das culturas.

Ainda antes do início do século XX, e como curiosidade, é registada a patente do Antinonnin, o primeiro insecticida da Bayer, destinado a combater a limântria que na altura causava enormes estragos nas árvores da Floresta Negra, no Sul da Alemanha.

Em 1939 ocorreu a descoberta do DDT a que se seguiram outros produtos entre os quais é de salientar o lindano, a dieldrina, o MCPA, o 2,4 D e alguns fungicidas como o zinebe e a captana (Coelho, A.) Foi, porém, após a Segunda Guerra Mundial e devido à grande necessidade de produzir alimentos para uma população mundial em crescimento exponencial que foram sendo descobertas e sintetizadas novas moléculas a um ritmo quase alucinante do que resultou o aparecimento, no mercado internacional, de numerosíssimos novos produtos.

Em Portugal, e para acompanhar este novo mercado da protecção das culturas que entretanto ia florescendo um pouco por todo o lado, em 1953 é criada no Porto uma representante da Bayer, Quimicor, empresa que englobava, entre outros, um departamento especializado em produtos destinados à agricultura.

Também como curiosidade referiremos que, no nosso país, a primeira providência legislativa com vista a garantir o estabelecimento de normas sobre o fabrico, importação e comercialização de pesticidas surgiu em 30 de Setembro de 1960 (Portaria nº 17 980), regulamentação essa que se manteve em vigor até 19 de Julho 1967, data em que foi promulgado o Decreto-Lei nº 47 802 que estabeleceu em Portugal a obrigatoriedade da homologação dos produtos fitofarmacêuticos (Coelho, A.).

É durante a década de 50 que surge uma nova geração de produtos fitossanitários, os insecticidas organofosforados, sendo a Bayer uma das principais responsáveis pela sua síntese e desenvolvimento. Marcas como o E 605 (paratião), Metasystox (oxidiametão-metilo), e que foi o primeiro insecticida sistémico, e Lebaycid (fentião) constituíram durante algumas décadas e até o final do século XX, devido ao seu elevado grau de eficácia, insecticidas de referência no controlo das principais pragas que atacam as culturas.

Em Portugal, o insecticida E 605 foi lançado no mercado em 1969. Apesar da sua eficácia no controlo das pragas, os insecticidas organofosforados apresentavam também as suas desvantagens, sendo de salientar o elevado grau de toxicidade para o homem bem como em relação a outro tipo de organismos não visados como, por exemplo, os organismos auxiliares.

Uma maior consciencialização para os aspectos relacionados com a protecção da saúde humana e temas ambientais, com o consequente "apertar da malha" na legislação europeia sobre a homologação de produtos fitofarmacêuticos, obrigou à retirada gradual destes produtos do mercado o que, por sua vez, lançou o desafio às empresas para o desenvolvimento de novas famílias químicas menos penalizadoras para o homem e ambiente.

E aqui, novamente, a Bayer, através do seu esforço constante de inovação, teve um papel fundamental ao descobrir a família química dos neonicotinóides, insecticidas que, mantendo um elevado nível de eficácia sobre as pragas, eram muito mais favoráveis relativamente à sua perigosidade para o homem. O Confidor (imidaclopride), lançado em Portugal no ano de 1994, e o Calypso (tiaclopride), que surgiu no nosso mercado em 2003, constituem igualmente marcas de referência a nível mundial.

Mas o esforço de inovação é constante e, mais recentemente, a Bayer descobriu uma nova família química de insecticidas, os cetenóis, cujo primeiro representante, o Envidor (spirodiclofena), chegou ao mercado nacional no ano de 2007.

Falando agora um pouco sobre fungicidas também neste grupo de produtos o contributo da Bayer é de destacar. O Antracol (propinebe), fungicida ditiocarbamato, foi registado em Portugal em 1965, mantendo-se ainda hoje em comercialização em inúmeros países, incluindo Portugal. O propinebe é um dos componentes do fungicida Milraz (cimoxanil+propinebe), lançado no nosso país em 1980, sem dúvida uma das marcas com maior notoriedade do nosso mercado senão a mais conhecida dentro do universo dos produtos fitofarmacêuticos registados em Portugal. Apesar de ter vindo a ser amplamente utilizado pelos nossos agricultores ao longo das últimas décadas, não são ainda conhecidos casos de resistência de fungos patogénicos ao propinebe, trata-se dum fungicida com acção multisite ou seja actua em vários pontos do metabolismo dos fungos, residindo aí uma das chaves para o seu prolongado sucesso.

Em finais dos anos 60 a Bayer descobre o primeiro fungicida sistémico, o Bayleton (triadimefão), abrindo caminho ao aparecimento de uma das famílias químicas mais utilizadas, a nível mundial, no combate a importantes doenças das plantas. O Bayleton foi lançado em Portugal no ano de 1979, constituindo mais uma marca de referência sobretudo na protecção da vinha. Porém, a utilização excessiva deste tipo de produtos aliados à falta de conhecimentos sobre o desenvolvimento de mecanismos de resistência aos fungicidas por parte dos fungos, precipitou a sua retirada do nosso mercado. Um dos sucessores daquele fungicida, o Horizon (tebuconazol), registado em Portugal no ano de 1992, continua a ser uma das principais soluções para controlar o oídio da videira.

Mais recentemente, no princípio deste século, a Bayer lança no mercado o primeiro elemento da família Melody (iprovalicarbe), uma nova família química de produtos, as amidas do ácido carboxílico (CAA), destinados sobretudo a combater fungos oomicetas sendo de destacar a sua acção contra a mais temível das doenças da vinha: o míldio da videira. Já neste ano, é posto à disposição dos agricultores portugueses o Profiler/Volare, fungicidas à base de fluopicolida, uma nova família química e que vem, por um lado alargar o leque de soluções disponíveis para o controlo de doenças provocadas por míldios e, por outro, permitir uma mais racional gestão de resistências contra este importante grupo de fungos.

No caso dos herbicidas, produtos como Tribunil (metabenztiazurão), Sencor (metribuzina) e Goltix (metramitrão) vão constituir produtos de referência dentro dos respectivos segmentos. Em 2006, é registado em Portugal o herbicida Atlantis, destinado ao controlo de infestantes em searas de trigo e que é, presen