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A escoriose da videira

03/03/2011, Dr. Yvon Bugaret - (Antigo Engº do INRA)
A escoriose da videira

É uma doença da videira de importância económica reconhecida, pelos danos directos que causa às videiras e também pelos danos indirectos que muitas vezes tem impacto na longevidade das vinhas.

Em Portugal, a escoriose é frequentemente isolada a partir de material vegetal em todas as zonas vitícolas.

Veja em Bayer agro.TV: "Saiba mais sobre a Escoriose da Videira."

Os seus sintomas são muitas vezes confundidos com os
ataques causados pelos fungos Botryosphaeriacea. Os maiores
prejuízos são a inviabilização dos gomos da base dos sarmentos, invadidos pelo micélio hibernante do fungo.
Descrição e classificação do parasita.

Nos anos setenta, o fungo responsável pela doença ainda não
tinha sido identificado. BULIT, BUGARET de LAFON R. (1972)
determinaram a presença de Phomopsis viticola Sacc nas
amostras que apresentavam sintomas de escoriose provenientes
de diversas vinhas de França e de outros países europeus.
BUGARET (1984) estudou a biologia do fungo responsável pela
escoriose e sua epidemologia, elementos necessários ao estabelecimento de uma estratégia de luta.

A descrição e o posicionamento sistemático do fungo Phomopsis viticola Sacc foi objecto de uma confrontação de pontos de vista entre os investigadores, durante cerca de 80 anos, até se chegar a acordo quanto à determinação do agente patogénico: Phomopsis viticola Sacc. A forma assexuada da Phomopsis viticola do género Diaporthe. No que respeita ao fungo P. viticola, não há actualmente uma forma perfeita sexuada conhecida. O fungo Phomopsis viticola Sacc. é portanto incluído nos Fungi imperfecti e a descrição que foi feita, classifica o fungo, se seguirmos
a classificação de VIENNOT-BOURGIN (1949), nos Sphaeropsidales, Sphaerioidacéae, Hyalosporéae. O fungo da
escoriose é hoje designado por Cryptosporella viticola Shear.

Sintomatologia

A escoriose é uma doença que se manifesta na Primavera na
base dos sarmentos. Ao abrolhamento a doença destrói alguns
dos gomos basais dos sarmentos de poda, originando, precocemente, uma diminuição da futura colheita. Ao longo do ciclo vegetativo da videira os pâmpanos e sarmentos, fragilizados devido ao estrangulamento na base, caem ao mínimo choque ou por acção do vento.

Os sintomas visíveis na Primavera, nos jovens pâmpanos,
são reconhecidos pelas:

> Necroses acastanhadas pouco profundas, em forma de fuso,
que progressivamente se tornam mais ou menos confluentes;

> Crostas superficiais negras bem individualizadas;

> Lesões extensas, castanhas, com estrias perpendiculares de
aspecto encortiçado (aspecto tablete de chocolate).

Desde o Outono e durante o Inverno é possível observar à volta das zonas necrosadas um esbranquiçamento das varas ponteadas com pequenos pontos negros que são os picnídeos do fungo. A doença acaba por enfraquecer a videira. O viticultor poda cada vez com mais dificuldade e é obrigado ou a fazer cortes nos braços ou a alongar os talões deixados à poda, o que desequilibra a videira.

Biologia e Epidemologia

O fungo P. viticola, responsável pela escoriose tem duas formas de conservação Invernal:

> Os picnídeos formados sobre a madeira casca esbranquiçada
ou necrosada dos sarmentos;

> O micélio hibernante presente em certos gomos dormentes
dos sarmentos.

Na Primavera, perto do abrolhamento, o fungo entra numa fase
de intensa actividade. Os picnídeos libertam os seus esporos
incolores, aglutinados em cirros (massa gelatinosa emergente
dos picnídeos), através da acção da chuva e da humidade. As
gotículas de chuva quebram os cirros e projectam os esporos
por arrastamento para os gomos recentemente abrolhados. Os
esporos germinam bem na água e podem contaminar os pâmpanos
e todos os órgãos verdes, caso estes fiquem humectados
durante um período de tempo de humectação consecutivo superior a 7 horas. Após um período de incubação de cerca de uma a três semanas, os primeiros sintomas da doença, muito discretos, aparecem nos entre-nós da base dos pâmpanos. O micélio presente nos gomos desenvolve-se à superfície dos pâmpanos, acompanhando o crescimento. Nas folhas o limbo fica deformado e com lesões punctiformes necrosadas, rodeadas de um halo amarelo e pequenas necroses nas nervuras principais, que também podem observar-se nos cachos (ráquis e pedicelos). A germinação dos esporos ocorre para um intervalo de temperaturas entre os 1º e os 37º, tendo um óptimo de 23º.

No Verão, o crescimento da doença continua sobre os sarmentos. Os sintomas acentuam-se e os gomos são contaminados pelo micélio.

No Outono, os sarmentos afectados pela escoriose apresentam-
se esbranquiçados (branqueamento cortical) salpicado de pontos negros: os picnídios, que começam a sua maturação. O micélio instalado nos gomos durante o Verão fica latente até à Primavera seguinte.

Meios de luta

Em primeiro lugar o material vegetativo a utilizar nas novas plantações não deve ser portador do fungo Phomopsis vitícola, devendo por isso a necessidade de ter todos os cuidados ao nível do viveiro. Em vinhas já implantadas é necessário efectuar um levantamento do estado sanitário da vinha, ao nível de cada parcela e antes da poda de Inverno. O uso de porta-enxertos indutores de um um excesso de vigor são de desaconselhar. Relativamente à sensibilidade das castas destacam-se como mais susceptíveis o Alicante Bouchet, Alphonse Lavallé, Aragonez (ou Tinta Roriz), Cabernet Sauvignon, Cardinal, Castelão, Syrah e Touriga Nacional.

Em seguida, a decisão de prever a necessidade de uma luta preventiva pode ser tomada da seguinte
maneira:

1) Ausência de necroses típicas na base dos talões e varas:
inútil tratar;

2) Presença de algumas necroses isoladas a significativas
nos talões e varas da parcela: protecção preventiva é necessária.

Como decidir a intervenção?

Os estudos realizados nos últimos anos permitiram formalizar
e por à prova uma regra de decisão que se rege pela aplicação racional dos tratamentos pós-abrolhamento contra a escoriose. Esta regra foi avaliada nas vinhas com castas sensíveis à doença de forma a proceder à sua validação.

A decisão de intervenção depende de 3 indicadores principais:

1) "Estado sanitário": observação das cepas com sintomas
de necroses devidas à escoriose durante a poda;

2) "Receptividade da Vinha": quando existe uma percentagem
definida dos gomos no estado sensível (de receptividade
à doença);

3) "Chuvas anunciadas": capazes de assegurar um risco de
contaminações.

Se estes 3 factores co-existerem os viticultores devem efectuar tratamentos de acordo com uma protecção preventiva racional. Caso um destes três indicadores não esteja presente, é inútil tratar. Logo que a decisão de tratar seja tomada, a protecção preventiva de uma parcela pode efectuar-se com a ajuda de um ou dois tratamentos de Primavera, protegendo os jovens pâmpanos no início da rebentação.

Dois tipos de fungicidas podem ser utilizados com sucesso, os fungicidas orgânicos de contacto (ditiocarbamatos, ftalimidas, enxofre molhável) e os fungicidas sistémicos (fosetil-Al associado a produtos de contacto). A estratégia de aplicação nos tratamentos de Primavera está dependente da escolha do fungicida.

A escoriose da videira
Estrangulamento da base de um pâmpano fragilizado-o perante a acção do vento ou ao
A escoriose da videira
Necroses corticais na base dos sarmentos e esbranquiçamento de varas com picnídeos